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Políticas Metodologia
1.
Uma
reorientação
dos
objetivos
iniciais da pesquisa
Havíamos, inicialmente, estabelecido os seguintes objetivos:
1) Verificar os mecanismos de diferenciação tipológica e social das
políticas públicas urbanas e habitacionais que interferem na qualidade
urbano-habitacional dos assentamentos, particularmente os conjuntos
habitacionais; 2) Examinar
quais são aquelas ações institucionais relacionadas principalmente
à acessibilidade (particularmente ao sistema viário e rede de transporte)
que têm sido a causa da deterioração e segregação urbano-habitacionais; 3) Realizar
estudo comparado entre as ações e “não-ações” públicas (planejamento
e efetivação) que deram origem e estruturam os conjuntos estudados e os
assentamentos a estudar com o processo de gestão de suas comunidades. Neste
sentido, também empreender estudos comparativos das formas de gestão e
resultados espaciais de habitabilidade entre os conjuntos e os assentamentos. Com isso,
este trabalho buscou, através do âmbito de análise da pós-ocupação,
quais são aqueles aspectos institucionais que se transformaram em ações e/ou
obstáculos à melhoria habitacional e indicar diretrizes para sua ampliação
e/ou superação visando a elevação do padrão de habitabilidade e da
qualidade de vida da região. No entanto, pensávamos que, para melhor
entender a forma de como o Estado atua na congiguração territorial e
urbano-habitacional, seria antes necessário compreender
“... o processo territorial
intra e extra-urbano de conformação da localização espacial, como elemento
de valorização da terra é o elemento referencial de estudo, onde a
periferização dos assentamentos é o fator resultante” (ver Projeto de
Pesquisa, 1996). Neste aspecto, não foi possível estabelecer a evolução do
preço da terra urbana como elemento do processo de expansão urbana, pela
falta de dados confiáveis, dificuldade encontrada ao longo da pesquisa
[1]
. Sendo assim, tivemos de
rever este estudo, realizando apenas uma
análise qualitativa de caráter indicativo que explica as razões da
localização periférica dos conjuntos Panorama nos limites do município de
Florianópolis e São José e o Bela Vista IV às margens da BR 101 em
terrenos de valor bem inferior aos do bairro Kobrassol, cuja centralidade tem
gerado uma elevada valorização imobiliária na região como um todo.
Outro aspecto que pensávamos que seria referente
de fundo da pesquisa e que acabamos abandonando, pelo fato do trabalho centrar-se
na forma de uso e não na forma de produção foram “
... as contradições entre a gestão “fordista” de produção
habitacional e as formas desreguladoras de conformação territorial dos
assentamentos. Estudos de natureza teórica buscam onde realmente estão
esgotados os mecanismos de produção massiva de habitação e onde se
encontram mais que ações efetivas implementadas na região e em nível
nacional, os discursos ideológicos que tem configurado uma estratégia
programada de desregulação da gestão pública no setor” (Projeto de
Pesquisa, ibid). Assinalamos nas pesquisas do c. h. Panorama (1996-1998) e
Bela Vista IV (1997-1998) que estas formas de habitação representaram um
modelo de produção e gestão habitacionais que entraram em crise pela sua
inserção urbana periférica, sem previsão de acessibilidade viária e de
serviços no projeto inicial, e deficiente qualidade arquitetônica e
construtiva, além da rigidez no que se refere à ausência de expansividade
das unidades. Foram os últimos programas habitacionais que contaram com a
participação centralizada da COHAB-SC e do sistema SFH, inspirado no regime
militar e nos modelos habitacionais dos anos 40 e 50. No entanto, não podemos
afirmar que estão esgotados. A construção do c. h. Abraão também junto à
BR 282, como o c. h. Bela Vista IV, e também com promoção da COHAB mostrou
que aquele antigo sistema centralizado, com pouca ou nenhuma participação da
Prefeitura, que hoje promove a maioria da produção habitacional no
município, ainda não se esgotou. Este estudo, portanto, não aprofundamos na
pesquisa. Ficou referenciado em função de priorizar as análises dos
conjuntos na malha urbana e sua dinâmica interna de funcionamento.
Para que melhor se instrumentasse os três objetivos explicitados acima,
principalmente na etapa entre 1998 e 2000, onde se concentraram os
estudos nos assentamentos vizinhos ao c. h. Panorama, resolveu-se enfatizar a
pesquisa no estudo, não de todo o conjunto complexo das diversas e diferentes
ações do Estado (Prefeitura e governo do Estado) na região a partir de
final da década de 70 (como o fizemos na pesquisa do período 1996-1998), mas
de duas estratégias terrioriais principais que se implementavam na região: a erradicação e a
reurbanização. A primeira que tem sido uma tradicional política territorial
e urbana do estado no Brasil, desde o início do século no Rio de Janeiro com
as favelas, e, no período militar, foi extensivamente utilizada como
política de transferência forçada de populações de áreas valorizadas e/ou
para implantação de obras de renovação urbana (o caso do c. h. Panorama é
exemplo típico, construído na periferia) (ver estudos de Peres, 1994:
capítulos 6 e 7); e a segunda como uma estratégia territorial de manter as
populações nos seus habitats, que começou a ser
implementada com a queda do regime militar e com o início do processo
de redemocratização do país combinado com uma intensa reorganização dos
movimentos sociais e comunitários na luta pela melhoria de suas condições
urbano-habitacionais de vida. Este segundo processo foi defendido e adotado
como referência de política urbano-habitacional, em nível mundial,
nas Conferências Mundiais da Eco-92 no Rio de Janeiro em 1992 e a recente
Conferência Habitat de Instambul, em 1996.
[2]
2. Objetivos ligados à pesquisa dos conjuntos habitacionais Panorama e Bela Vista IV
Tendo como objetivos gerais os explicitados acima, a partir dos objetivos específicos para o estudo dos conjuntos Panorama e Bela Vista IV, que foram reavaliados e plenamente alcançados, foram examinadas as políticas e ações dos órgãos públicos, na configuração e construção destes conjuntos, além de estudar as seguintes relações e aspectos:
a)
Nível
de inserção e acessibilidade do conjunto habitacional com a malha e tecido
urbanos, considerando as linhas de transporte coletivo, a circulação
veicular, e o acesso aos serviços imediatos e mediatos:
·
Para
o caso do Panorama, os centros urbanos mais próximos como o centro de
Florianópolis, Kobrassol, Campinas e centro de São José;
·
Para
o Bela Vista IV, os centros urbanos de Florianópolis, Kobrassol, Bela Vista e
Barreiros, cuja centralidade se localiza do outro lado da BR 101, lado leste;
b)
Relação
social e urbana entre o Panorama e os assentamentos de seu entorno e do c. h.
Bela Vista IV com o seu entorno que são os conjuntos Bela Vista I, II e III;
c)
Implantação
no terreno dos blocos de apartamentos e orientação solar e paisagística;
d)
Espaços
internos de uso comunitário, verificando o nível de suficiência dos
equipamentos e serviços existentes, escala, grau de conforto ambiental (aqui
verificou-se o grau de residualidade dos espaços ou de ociosidade);
e)
Estudo,
para efeitos ilustrativos, das unidades-apartamento, examinando a
dimensionalidade, relação mobiliário e espaço disponível, conforto
térmico para o caso do Panorama e térmico e acústico para o Bela Vista IV (proximidade
com a BR 101);
f)
Aspecto
tipológico e de desenho dos espaços, dos blocos e dos apartamentos.
3. Objetivos ligados à pesquisa dos assentamentos Chico Mendes, N. S. da Glória, Novo Horizonte e comunidade reassantada da via Expressa no C. H. Abraão
Tendo como objetivo geral identificar e compreender como as políticas públicas do Estado contribuem ou não para a melhoria da qualidade dos assentamentos, estabeleceram-se, inicialmente, os seguintes objetivos específicos: 1. Identificar quais as formas de atuação do
Estado, destacando sua
participação em escala municipal e estadual, verificando os mecanismos
jurídicos e financeiros na regularização do espaço urbano;
2. Verificar como se desenvolvem as políticas institucionais setoriais
(CELESC, CASAN, COHAB), analisando suas posturas referentes aos
assentamentos irregulares; 3. Analisar
o nível das carências nos assentamentos, sejam sob o aspecto social,
econômico ou ambiental, apontando a partir desta avaliação diretrizes que
possam resultar em novas propostas.
Estes objetivos foram atingidos, sendo que o objetivo inicialmente
estabelecido de “Cruzar
informações sobre as análises referentes aos conjuntos habitacionais (oficial)
realizados na 1ª etapa da pesquisa com as análises sobre os
assentamentos (irregular) resultado desta última etapa” foi
tratado mais recentemente, depois de haver desenvolvido as pesquisas
específicas nos assentamentos. Buscou-se articular os estudos feitos por
Matiello & Peres (1996-1997) da relação do Panorama com os assentamentos
com as pesquisas mais recentes dos assentamentos Chico Mendes e Novo Horizonte.
4.
Metodologia
4.1.
A natureza teórica e empírica desta pesquisa: dois momentos que se interrelacionam
Embora o
método de pesquisa inicial foi combinar o trabalho empírico com a
elaboração teórica, buscando a articulação permanente entre estes dois
momentos do trabalho investigativo, pelo fato de que a pesquisa foi
desenvolvida, além dos estudos
realizados pelo coordenador da pesquisa, basicamente por estudantes de
iniciação científica, teve-se que combinar quatro níveis de estudo: 1o)
formação inicial sobre as conceituações básicas acumuladas por alguns dos
principais estudos acumulados e clássicos do(s) tema(s) de estudo, tendo como
diálogo permanente e crítico o próprio orientador da pesquisa (PERES,
1994); 2o) o estudo
específico do objeto de estudo (conjunto habitacional, 1996-1998) e
assentamentos (1998-2000) na sua forma conceitual e histórica;
3o) principalmente o estudo empírico daqueles objetos de
estudo, como instância básica e mais apreensivelmente inteligível de
compreender a dinâmica urbana e arquitetônica da forma de habitar; 4o)
o trabalho de síntese interpretativa dos estudos analíticos realizados. No começo da pesquisa (1996), devido às
características do estudante Matiello,
conseguimos articular melhor estes quatro níveis de forma mais correlacional
e dinâmica. No entanto, já na pesquisa dos assentamentos, para as duas
estudantes-bolsista (assentamentos, 1998-2000), tivemos que enfatizar duas
estratégias de intervenção do Estado (erradicação versus reurbanização)
[3]
, para melhor centrar os estudos conceituais, evitando-se a
dispersão metodológica que se
percebia na forma como estudavam e entendiam os fenômenos analisados.
Resolveu-se centrá-las mais no estudo empírico, para, a partir daí,
ir aprofundando alguns conceitos estruturais para o trabalho investigativo,
através de fichamentos dirigidos. O quarto nível referido, na pesquisa dos
assentamentos, ficou um pouco prejudicado no que se refere a correlacionar
aquela configuração habitacional com os conjuntos que lhes é vizinho,
devido à própria dinâmica da pesquisa que teve de centrar-se nos estudos
comparativos entre a realidade de carência urbana, ambiental e urbana da
área e o projeto da Prefeitura chamado “Bom Abrigo”. A ênfase da
interpretação dos dados levantados deu-se na interrelação entre as
estratégias de erradicação (circuito Via Expressa, barracos/shopping center
e c. h. Abraão) e reubanização (Chico Mendes, N. S. da Glória e Novo
Horizonte), suspendendo-se temporiamente, as análises comparativas entre os
assentamentos e o conjunto vizinho. Este trabalho já havia sido em parte,
realizado pelo bolsista Matiello quando estudou o c. h. Panorama em sua
relação com os assentamentos que lhe circundavam.
O que se fez foi uma intervenção do
coordenador da pesquisa no estudo relacional conjunto/assentamento para
que se fechasse a pesquisa.
4.2.
Indicadores e parâmetros de pesquisa
Os principais indicadores de análise tanto para os conjuntos que em
boa parte já foram estudados e para os assentamentos, serão:
a)
Relação
entre os programas anunciados e realmente realizados;
b)
Localização
dos conjuntos e assentamentos com relação aos centros urbanos principais
referidos no que se refere à acessibilidade (grau de fluxo do sistema viário
e da rede de transporte) e à concentração dos serviços;
c)
Nível
de acessibilidade local aos serviços imediatos e mediatos;
d)
Relação
entre os conjuntos e os assentamentos com relação aos níveis de integração
social, integração ou não dos serviços, áreas contíguas ou descontínuas;
e)
Habitabilidade
imediata (espaços abertos circunvizinhos) e habitabilidade das unidades
residenciais (em apartamento) ou em habitação horizontal (assentamento) com
relação a: qualidade dos equipamentos, grau de utilização dos espaços
comunitários, nível de permeabilidade dos espaços privados, comunitários e
públicos, conforto térmico e acústico dos ambientes, relação mobiliário
e espaço, interrelação espacial e social entre as unidades residenciais;
f)
Grau
de pertinência e identidade dos usuários com o seu local de moradia;
g)
Formas
de gestão do conjunto ou assentamento e sua relação com a qualidade da
manutenção do local;
h)
Limites,
alcances e impactos sociais e político-institucionais das políticas e/ou
estratégias de erradicação e reurbanização; e
i)
Grau
de diferenciação entre as duas estratégias de implantação de assentamento
(erradicação e reurbanização).
4.3.
Uma avaliação da seqüência das etapas de trabalho
4.3.1.
Atividades vinculadas à precisão metodológica e de treinamento inicial
Em todas as quatro pesquisas (Panorama, Bela Vista IV, Chico Mendes e
NovoHorizonte/Via Expressa/Abraão), com pequenas diferenças, mantiveram-se
os seguintes procedimentos de pesquisa:
b) Revisão teórica do marco conceitual e metodológico desenvolvido
na pesquisa anterior e reformulacão dos parâmetros obtidos à luz da
pesquisa que se inicia com a habitação irregular e a parte urbana do sistema
viário, realizando-se consulta ao prof. Flávio Villaça (visita em novembro
de 1998) sobre os métodos de abordagem e tratamento conceitual dos temas
estudados;
c) Reorientação do eixo de pesquisa para ênfase no estudos das
estratégias de implementação das políticas habitacionais, centrando o
estudo conceitual e empírico nas experiências existentes na região e no
país. Este aspecto centrou melhor o estudante não habituado a
trabalhar com uma gama muito ampla de conceitos e temas.
4.3.2.
Etapa de levantamento de dados
a) Com relação às pesquisas documentais variaram os temas, sendo que:
a.1.) as vinculadas ao estudo dos conjuntos Panorama e Bela Vista IV,
concentraram-se no exame de estudos críticos e históricos das experiências
do poder público com a construção de conjuntos habitacionais políticas e
programas promovidos;
b) Pesquisa hemerográfica concentrando a investigação na seleção
de periódicos coletados na Biblioteca Pública, Assembléia Legislativa,
Biblioteca Central e setoriais da
UFSC e UDESC que abordam a problemática urbano-habitacional da região
conurbada (principalmente a parte continental de Florianópolis e São José).
Este trabalho foi principalmente desenvolvido pelo bolsista que estudou o c.
h. Panorama (Alexandre Matiello) no período entre 1996 e 1998, sendo que as
pesquisas sobre o Bela Vista IV (1997-1998) e dos assentamentos da área do
Pasto do Gado (bolsistas Tania G. Araújo e Maira O. Valle) ampliaram aquela
pesquisa, centrada mais na habitação irregular. Este trabalho não teve uma
sistematização informatizada; foi analisado de forma qualitativa no sentido
de destacar aquelas notícias que comentavam sobre as ações do Governo do
Estado ou municipal que afetavam diretamente as áreas de estudo.
c) Pesquisa documental e cartográfica na Assembléia legislativa, IPUF, COHAB, Secretaria de Habitação do governo do estado de Santa
Catarina,
Secretaria da Habitação da Prefeitura Municipal de Florianópolis,
Prefeitura Municipal de São José e
demais órgãos que concentram informação sobre a ocupação irregular.
Particularmente, as Secretarias do Bem Estar Social do Estado e a Secretaria
de Habitação, depois Departamento de Desenvolvimento Social, foram as mais
visitadas. O Cadastro Sócio-Econômico realizado pelo DDS das famílias dos
assentamentos do Pasto do Gado, desenvolvido a partir de 1998, foi-nos de
enorme utilidade. Até então, vínhamos trabalhando com dados defasados (pesquisa
de Peres, 1994) e por projeção dos dados gerais do IBGE, e além de nos
apoiarmos nas entrevistas com os líderes comunitários e algumas famílias que estavam e estão sendo transferidas ou pelo processo de
relocalização dentro da mesma área (Chico Mendes e Novo Horizonte) ou
erradicação ou transferência para outra área ou região (Via Expressa).
d)
Conclusão dos estudos empíricos realizados na etapa anterior de pesquisa nas
áreas de Chico Mendes/N. S. da Glória e Novo Horizonte, centrando-se
principalmente na formulação de alternativas tipológicas, locacionais e de
reassentamento, a partir da implantação de um pequeno conjunto atualmente em
construção sob gestão do Setor de Habitação da Prefeitura de
Florianópolis;
e)
Levantamento de campo com a população estudada:
e.1.) Contatos mais sistemáticos com a área e seus habitantes; e.2.) Pesquisa nos levantamentos já realizados (Cadastro Sócio-Econômico do DDS) e adição e ampliação de algumas informações do Cadastro (para os assentamentos) ou pesquisa aleatória exclusiva para os dois conjuntos pesquisados;
e.3.) Realização de entrevistas com as lideranças (ver
tópico Anexos - Entrevistas) para detectar as
impressões da área de estudo, através da rrealização de reuniões
contínuas que permitissem a discussão do que se fosse levantando e
interpretando assim como identificando os principais problemas vividos pela
comunidade, particularmente avaliações sobre o uso e gestão dos conjuntos
e/ou da situação social e habitacional antes e depois das ações da
Prefeitura em Chico Mendes, Novo
Horizonte e Via Expressa, sendo que neste caso o processo de transferência
das famílias para os barracos e posteriormente para o c. h. Abraão;
e.5.) Levantamento fotográfico, o qual foi uma ferramenta constante no
registro da situação ambiental, social, urbana e arquitetônica das
populações estudadas, considerando-se a especificidade da formação dos
bolsistas, todos da área da arquitetura
[4]
;
e.6.) Estudo cartográfico das áreas de estudo, chegando a uma
sistematização e reconstituição histórico-geográfica da evolução
urbana da região.
Para melhor situar as áreas de estudo e auxiliar na leitura dos mapas
acima apresentados, reconstituímos esta evolução em aerofotos dos anos de 1938,
1958, 1978, 1994 e 1998, em termos geográficos e urbanos (ver Anexo -
Evolução Urbana).
Este trabalho teve uma função pedagógica de desenvolver no estudante
a capacidade de foto-interpretação do objeto de estudo.
4.3.3. Análise e
interpretação de dados
a) Sistematização e estudo interpretativo dos dados e informações
de fonte primária e secundária (Cadastro) levantados no Chico Mendes/N. S.
da Glória e Novo Horizonte, e dos dados principalmente de fonte primária nos
estudos dos dois conjuntos habitacionais;
c) Análise seletiva e interpretativa dos estudos comparados entre os
assentamentos estudados e os conjuntos Panorama e Bela Vista IV (particularmente
concluir a formulação de diretrizes de melhoria destes conjuntos). Este
trabalho ficou um pouco prejudicado pelo tempo dedicado dos bolsistas às suas
áreas de estudo. Aqui, contou muito com a participação do orientador e
coordenador da pesquisa;
d) Análise e interpretação do conjunto dos estudos parciais citados
acima e elaboração dos escritos finais da pesquisa.
4.3.4. Retroalimentação das
informações através de eventos
a) Visita do prof. Flávio Villaça em novembro de 1998. O número de
consultores foi reduzido. Havíamos programado a visita de mais
de um consultor, mas por restrição e reorientação orçamentária, teve-se
que limitar à visita de um
consultor por sub-projeto. Aproveitamos
a vinda do prof. Villaça para que relançasse o seu livro “Espaço Intra-Urbano
no Brasil” e realizasse uma palestra à comunidade do Curso de Arquitetura e
Urbanismo sobre o processo de planejamento.
b) As
reuniões periódicas entre os sub-projetos deram-se mais através dos
bolsistas, inclusive pela própria dinâmica principalmente nos estudos de
campo.
c)
Realização de encontros formais e informais com técnicos e pesquisadores
dos órgãos governamentais os quais são um dos usuários dos resultados de
nossas pesquisas. Destacamos em especial o contato permanente que tivemos com
os técnicos do Departamento de Desenvolvimento Social da Prefeitura de
Florianópolis, que está tendo apoio financeiro do BID para projetos na área
habitacional.
4.3.5. Eventos resultantes da
experiência com as pesquisas
a) Participação em
eventos que trataram dos temas de pesquisa ou correlatos, com participação
nas Semanas da Pesquisa e de Iniciação Científica da UFSC (SEMIC), CONABEA,
IV Fórum de Educação Ambiental em Guarapari e outros, conforme descritos no
tópico Publicações (tópico
geral do projeto);
c) Aplicação dos resultados preliminares de pesquisa nos estudos de
caso ou em outra área onde se esteja construindo assentamentos.
Particularmente, pretende-se a partir dos resultados já alcançados nos
conjuntos habitacionais Panorama e Bela Vista IV e depois com Chico Mendes e
Novo Horizonte, formular parâmetros, em nível
espacial e arquitetônico que sirvam de base para a formulação de
propostas e projetos específicos onde possam concorrer estudantes do Curso de
Arquitetura e Urbanismo da UFSC e de outras escolas.
4.3.6.
Procedimentos finais
a)
Foram
escritos os relatórios individuais dos bolsistas para a prestação de contas
anuais das bolsas de iniciação científica, requeridas e aprovadas
internamente na UFSC (uma bolsa com uma renovação para a pesquisa do c. h.
Panorama, sendo que o Bela Vista IV teve apoio do FINEP com uma bolsa por seis
meses, e duas bolsas com três renovações para os estudos dos assentamentos
do Pasto do Gado);
b)
Elaboração
do Relatório Final de pesquisa para o FINEP, sob forma de CD, onde o presente
documento é uma das partes;
c)
Tradução
dos resultados de pesquisa em linguagem escrita, cartográfica e visual que
foram divulgados sob forma de:
·
CD (todas
os resultados parciais dos sub-projetos do FINEP) no stand da Feira do Habitat
em 1998 em Florianópolis;
·
Painéis
apresentados em diferentes eventos, conforme registramos na seção Publicações. Estamos preparando um painel que fará parte da Exposição intinerante de
Arquitetura em algumas cidades catarinenses, promovida pelo Instituto
de Arquitetos do Brasil – Seção SC, a qual culminará em dezembro em
Florianópolis, ficando exposta à opinião pública e aos órgãos públicos,
principalmente àqueles diretamente ligados às áreas de estudo (DDS, CASAN e
Secretaria de Desenvolvimento do Estado);
·
Palestras
sobre o(s) tema(s0 relacionados às pesquisas do Sub-Projeto, conforme
assinalamos na seção “Publicações”.
5. Um balanço da dinâmica metodológica das
atividades desenvolvidas
5.1. Sobre a forma como se trabalhou no estudo do
Panorama e Bela Vista IV
Os momentos de estudo teórico e empírico
entrelaçaram-se constantemente. No entanto, teve seus lugares próprios de
desenvolvimento. Na primeira etapa do trabalho, surgiu mais a parte
teórico-metodológica a fins de precisar os metas, método e procedimentos de
pesquisa. Mas fundamentalmente, situar e caracterizar o marco teórico do
trabalho, tendo em vista a necessária revisão bibliográfica. Posteriormente,
nos meses seguintes, entrou a parte empírica propriamente que esteve presente
até o final da pesquisa (1998). No segundo ano de pesquisa (agosto de 1997),
começou a aparecer com mais ênfase a reflexão teórica sobre os
dados levantados, tendo-se preocupação com a revisão do marco teórico
inicialmente estabelecido no início da pesquisa. O segundo ano também
caracterizou-se pela ampliação da base de dados, principalmente de fonte
secundária (hemerográfica), pelo estudo relacional dos projetos e
realizações do Estado (âmbito municipal e federal) e pelo aprofundamento do
estudo empírico na região. A partir daí é que se foi tendo a compreensão
gradativa do fenômeno estudado e, de forma geral, analisado conceitualmente
no primeiro ano de pesquisa. No ano de 1998, o estudante conjuntamente com o
coordenador da pesquisa, concentrou seus estudos na
interpretação conclusiva dos fenômenos examinados, e estabelecendo
diretrizes gerais e específicas que apontassem a melhoria da qualidade urbana,
ambiental, social e arquitetônica da habitação na região abrangendo tanto
a habitação construída nos circuitos formais e legais (conjunto
habitacional) como a habitação irregular (assentamentos)
[5]
5.2. A respeito das pesquisas nos assentamentos
Chico Mendes, Novo Horizonte e circuito Via Expressa, barracos e
Abraão
Este trabalho de pesquisa iniciou-se em agosto de
1998, o qual tinha como estudo de caso a comparação entre as situações da
realidade do assentamento Chico Mendes em sua pós-ocupação e as da
realidade do conjunto Panorama estudado pelo bolsista Alexandre Mattielo. Uma surpresa que veio a alterar o andamento da
pesquisa foi a realidade do processo de intervenção urbana na área do Chico
Mendes, onde a Prefeitura vem construindo um conjunto de habitações em bloco
que serve para a moradia transitória de famílias que vivem em áreas de
risco. Esta obra, que conta, em parte, com
o financiamento do BID e em parte, de fundos federais,
fez com que se reavaliasse alguns objetivos iniciais de pesquisa, na
medida em que foi se constituindo em uma experiência concreta de avaliação
não só da situação precedente de carência urbano-habitacional da área
como de estudo da intervenção da Prefeitura, através de seu Departamento de
Desenvolvimento Social. Com isso, pôde-se analisar os limites e alcances
deste tipo de intervenção em nível urbano e arquitetônico, como indicar, a partir deste estudo, alternativas à proposta oficial.
Na época do início da pesquisa, 1998, o projeto de intervenção da
Prefeitura encontrava-se em fase de discussão juntamente às lideranças, em
busca de uma solução que atendesse as necessidades e expectativas da
população, sendo que hoje se encontra em plena fase de implantação. Foi muito destacada toda
a dinâmica de transformação urbana, o
que dirigiu o estudo para o entendimento dos processos e interações
entre os vários agentes responsáveis pela realidade do espaço.
O espaço, por não apresentar uma situação “pronta”, foi avaliado em termos de processo, visto não ter sido concluída a sua
reurbanização e nem concluída a obra ali instalada. Além desse aspecto, considerando-se o próprio
procedimento de acompanhamento e diagnóstico, percebeu-se
a necessidade de uma ênfase maior no estudo de alternativas para
complementação e adequação ambiental e tipológica da obra, ainda que em
nível apenas teórico e acadêmico, mas já com vistas a uma possibilidade de
concretização prática na área. A pesquisa iniciou-se centrada no
estudo comparativo entre duas situações, cujo produto em nível
teórico apareceria mais como referencial para futuras intervenções
ressaltando aspectos de observação da realidade, paralelamente ao
acompanhamento da realidade observada e vivenciada em campo. Na
pesquisa sobre os assentamentos, pudemos
experimentar mais claramente, o estudo comparado do projeto pensado para área
pelo DDS/Prefeitura, e sua realização concreta. Pode-se confrontar as
aspirações iniciais dos moradores que se localizavam em áreas de risco e
para os quais foram destinadas casas (de dois e três pisos), com a moradia
realmente oferecida. Portanto, mudaram qualitativamente as visitas realizadas
na área em 1998 e as que se fizeram recentemente no corrente ano de 2000. Esta
etapa, desenvolvida antes do retorno à área, fez-se necessária, de maneira a
se chegar ao espaço com uma impressão para depois confrontar com a realidade
“nova” ali encontrada. Nova,
porque a cada dia aquele espaço ia se transformando
[6]
. Das quatro etapas de pesquisa referidas anteriormente, a primeira
foi realizada paralelamente às outras, devido à premência de tempo, para
que as bolsistas melhor compreendessem o que estavam estudando em nível mais
abstrato. Preferiu-se “jogá-las” na água e fazê-las nadar, para depois
aos poucos irem estudando ("nadando") aqueles aspectos mais conceituais da problemática
estudada.
6.
Dificuldades
A
pesquisa desenvolvida acompanhou um processo de intervenção urbana que
continua se desenvolvendo na área (objeto de estudo), que se desenvolve rapidamente.
A transformação das idéias e do espaço, em termos da proposta de
reurbanização deu-se em
um ritmo intenso, o que exigiu uma
constante revisão de resultados. Co-existem,
para a área dos assentamentos, a realidade anterior de casas e barracos com a
nova realidade em processo de construção,
sendo que a própria situação criada já vem sofrendo intervenções
e modificações, devido às
adaptações que alguns moradores vêm
fazendo na unidade habitacional. A paisagem que se
estudou é uma paisagem de
transformações. Daí, a dificuldade constante que se teve de tomar
distância do objeto de estudo e vê-lo de forma
mais configurada, como se dá aos olhos de um historiador. O que
balizou a pesquisa foi o estudo comparado de uma situação
urbano-habitacional antes de depois da intervenção da Prefeitura/BID. No
entanto, sua avaliação pós-ocupação está ainda em construção, e que,
por necessidade de interromper a pesquisa dentro dos prazos do FINEP, aparece
como cortada e suspensa e “inacabada”. No entanto, pretendemos continuar a
estudá-la através de outras formas de sustentação financeira, como foi a
recente renovação das duas bolsas de iniciação científica pelo CNPq.
Já
na pesquisa dos conjuntos Panorama e Bela Vista IV, a realidade construída
já estava consolidada o que permitiu uma maior distância do objeto de estudo,
no que concerne especificamente ao projeto ou as intervenções do Estado/COHAB. Outro
ponto a considerar, no que se refere ao andamento da pesquisa, foi a
dificuldade de se ter acesso a documentos e levantamentos da área; algumas
vezes, por falta de disposição dos órgãos
responsáveis de fornecer informações -
IPUF, Secretaria da Habitação - e outras pela falta de documentação,
especialmente no que se refere a dados mais antigos.
Nem sempre foram encontradas as pessoas responsáveis pelo fornecimento
do material, sendo a etapa de levantamento de dados demorada e um pouco
desgastante.
Um fator que, embora não se
enumere como entrave no andamento
da pesquisa, aparece como aspecto que dificultou as atividades de visita de
campo, foi o fenômeno e problemática da violência particularmente no Chico
Mendes, que vem crescendo de modo
considerável desde o início da pesquisa e que intimida um pouco a entrada na
área. Apesar disto, não houve problemas constatados durante o trabalho na
área. Este fenômeno é um dado
social novo na região, que não existia pelo menos até a metade da década
de 90. Este aspecto merece um
estudo profundo, o qual não foi objeto deste trabalho.
Florianópolis,
agosto de 2000.
Prof.
Dr. Lino Fernando Bragança Peres Responsável pelo Projeto de
Pesquisa
[1]
Deve-se desenvolver um trabalho de construção de
dados para uma análise mais confiável do movimento do preço da terra na região,
visto que abrange também o município de São José, onde na Prefeitura e
órgãos públicos não existem dados sistematizados sobre o preço dos
terrenos e tampouco sua evolução. Recentemente, no município de
Florianópolis, vem se desenvolvendo uma melhor sistematização destes
dados para cobrança do IPTU, mas ainda é muito discutível sua base
científica. Este estudo deveria trabalhar com informação de jornais, buscar
fontes primárias de agentes e associações imobiliários e da
construção, o que demandaria uma outra pesquisa.
[2] Hoje, os órgãos mundiais de fomento como o BID e BIRD exigem sustentabilidade social e ambiental aos projetos institucionais dos governos, onde a estratégia de reurbanização vem sendo utilizada como referência de política habitacional.
[4]
O levantamento fotográfico desenvolvido na área tem buscado, além do
registro de um momento do processo de construção de uma nova realidade
urbana, com a constituição de um memorial, baseia-se
também no estudo do confronto das imagens do novo - a proposta da
prefeitura - e a imagem do antigo, a realidade da ocupação irregular dos
barracos e casas, muitas ainda em situação precária, embora tendo
várias melhorias. E, nos conjuntos Panorama e Bela
Vista IV, constituiu-se em um meio indispensável para detectar os problemas
de utilização dos espaços intra-blocos de caráter comunitário ou sua
negação, assim com os aspectos arquitetônicos e ambientais do conjunto
analisado. Serviu de ferramenta de apoio à análise escrita. Foi como uma outra linguagem de descrição e interpretação crítica dos fenômenos
analisados. Destacamos aqui as diferenças técnicas do levantamento
fotográfico da primeira etapa (conjuntos), que se apoiou em câmara
fotográfica cujas fotos foram depois escaneadas, para a segunda (assentamentos), que foram tiradas em máquina
digital, como melhor manipulação e resolução, sendo que, no entanto,
estes dois procedimentos não interferiram na qualidade da pesquisa, mas sim
na sua agilização e praticidade.
[5]
Estas diretrizes são assinaladas no relatório final da pesquisa
(ver tópico Resultados - Panorama)
e que serviram de base para a formulação das diretrizes
expostas no tópico Conclusões. [6] Foi uma etapa de discussão sobre os resultados das pesquisas desenvolvidas pelas bolsistas, uma centrada no eixo da erradicação- desenvolvida por Maira de Oliveira Valle - cuja pesquisa abordou a área da Via Expressa; e outra centrada no eixo da reurbanização , abordando então a área da comunidade Chico Mendes- desenvolvida por Tania Guedes de Araújo.
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