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Apropriação Ref.Teórico
A interrelação entre os diversos elementos que constituem o cotidiano
do ser humano, compõem uma “teia” de eventos relacionada com fenômenos,
pessoas, lugares e atividades. Entende-se que a compreensão da qualidade de
vida numa abordagem holística, implica em desvendar os vários contextos
vivenciados pelos sujeitos no seu dia-a dia. É neste sentido que entende-se
relevante associar a qualidade de vida às interrelações entre o morador e
sua moradia.
Embora prover habitabilidade - e flexibilidade - constitua-se na
característica essencial da edificação, sabe-se que, nos chamados “conjuntos
habitacionais de baixa renda” a qualidade de vida dos moradores mostra-se
afetada, entre outros fatores, pela inadequação ou inexistência de
determinados elementos arquitetônicos que prejudicam tal característica.
Para Malard (1992), habitabilidade compreende três grupos de
qualidades: as relativas à dimensão prática, as relativas à dimensão
cultural e as associadas aos aspectos funcionais. Vinculadas a essas
qualidades, as características fundamentais da habitação são expressas por
fenômenos subjetivos que ocorrem no processo de habitar. São eles:
• Territorialidade: vinculada à necessidade humana de demarcação
do território: o que é dentro; o que é fora, o que é privado; o que é
público.
• Privacidade: vinculada à necessidade humana de estar só, de
resguardar sua intimidade dos olhares estranhos.
• Identidade: vinculada à necessidade humana de destacar-se do meio:
"eu sou desta forma, o outro é de outra forma".
• Ambiência: vinculada à necessidade humana na troca com o ambiente
quanto ao conforto térmico e lumínico, ventilação, utilização e
conservação dos equipamentos, circulação e segurança.
Estes fenômenos - territorialidade,
privacidade, identidade e ambiência (referenciados na sequência deste
relatório por suas iniciais, em maiúsculo) são aspectos comportamentais. As
dimensões fenomenológicas que interferem na habitabilidade, focalizam
"como" o edifício é vivenciado. As relações entre dimensões
fenomenológicas, fenômenos existenciais e elementos arquitetônicos,
constituem o elo entre o nível subjetivo e o objeto arquitetural. Os
fenômenos existenciais que expressam as dimensões fenomenológicas são
necessidades humanas que precisam ser consideradas quando se concebe um
ambiente. Assim, os elementos arquitetônicos devem ser adequadamente
providos, de acordo com o contexto cultural.
Para Szücs (1996), a idéia de flexibilidade aplicada ao projeto da
habitação popular, deve ser entendida como a capacidade do edifício de se
adequar a um leque de necessidades específicas. Esta adequação passa
portanto pela possibilidade de transformação da edificação que, a partir
do surgimento da necessidade e de condições financeiras favoráveis, pode
ser modificada ou ampliada sem ter destruída parte da construção ou
inviabilizado o uso da parte pronta, durante ou após a obra.
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