|
|
Apropriação Justificativa
A produção em massa da habitação destinada à população de baixa
renda e provida pelo Estado, tem se caracterizado pela excessiva
padronização, a ponto de um mesmo projeto ser utilizado em diferentes
regiões do país.
As questões ligadas à cultura e às características regionais, têm
sido muito pouco consideradas nos projetos, que resultam muitas vezes em
espaços impessoais e estranhos ao usuário.
A qualidade das edificações entregues têm se mostrado precária e
inadequada às condições de conforto dos locais de implantação, a ponto de
ainda no primeiro ano de moradia, muitos proprietários empreenderem
modificações no edifício para corrigir falhas da obra ou inadequação das
instalações.
Como elemento agravante, os padrões de projeto ainda hoje utilizados
não apresentam flexibilidade
[1]
e impossibilitam tentativas de adaptação da moradia sem envolver
radicais interferências no edifício (Szücs,1996).
Um maior conhecimento dos futuros moradores, ainda na etapa de projeto,
seria de enorme valia para o projetista que assim poderia projetar um tipo de
casa para cada família usuária. O projeto especializado entretanto,
resultaria dispendioso demais, tanto em termos de custos de projeto quanto em
termos de tempo de obra.
A inviabilidade econômica da construção de unidades personalizadas,
ao lado da inadequação da produção de unidades excessivamente
padronizadas, desafia o projetista no sentido da busca de alternativas
construtivas mais flexíveis, que permitam ao usuário a introdução de
elementos “personalizadores” (sic.) que entretanto não interfiram na
qualidade ambiental e construtiva da edificação.
O conhecimento mais aprofundado das características, necessidades e
anseios dos usuários potenciais, permitiria o estabelecimento de parâmetros
de projeto que possibilitassem algum grau de padronização - amortizado pela
repetição - aliando condições de habitabilidade e adaptabilidade, adequado
às pessoas que vivenciarão as unidades assim produzidas.
No sentido da concretização do exposto, entende-se que é
imprescindível identificar, reconhecer e analisar unidades habitacionais
padronizadas existentes, através da verificação da forma como o usuário a
transformou ao longo do tempo, e que resultado obteve a partir dessas
transformações. O objetivo é de um lado compreender as interações
existentes entre morador e moradia e de outro lado, verficar a qualidade
espacial e ambiental da edificação resultante.
A abordagem proposta é portanto a de avaliar as interações entre os
usuários e suas moradias, de modo a obter subsídios que possibilitem
diminuir o hiato existente entre o que os moradores necessitam e desejam e o
que o produto arquitetônico - a casa - oferece.
Em síntese, foram estabelecidos como objetivos da pesquisa o que
segue: •
Sugerir uma abordagem inovadora para a análise do ambiente construído. •
Qualificar o uso dos espaços da habitação. •
Identificar os conflitos existentes nos projetos de habitação popular,
visando maior adequação às famílias usuárias. •
Buscar alternativas projetuais mais flexíveis, a fim de - mantendo a harmonia
de conjunto - permitir aos usuários acréscimos e reformulações, de forma
econômica e eficiente.
[1]
O termo “flexibilidade” será considerado para efeito deste relatório,
como a capacidade do edifício de se adequar a um leque siginificativo e
variado de necessidades familiares. |