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Apropriação Etapa 2
No início do segundo ano, foi efetuada uma reavaliação documental
referente aos dados de campo, tarefa que se mostrou imprescindível no sentido
de dar unidade às informações produzidas e de verificar sua validade.
Os elementos identificados foram agrupados em três níveis de
incidência. O primeiro nível agrupou uma série de conflitos
decorrentes da condição original do projeto (urbanístico e
arquitetônico), que não qualificaram o empreendimento. O segundo nível
identificou uma conflitos decorrentes
das intervenções realizadas pelos usuários e que incorreram em uma
série de problemas que interferiram diretamente na qualidade das
edificações resultantes e na qualidade de vida de seus usuários. O terceiro
e último nível de incidência resultou na Relação
de Conflitos por Unidade, dispostos de forma didática, visando facilitar
a compreensão e o entendimento. Por fim, são apresentadas as relações
individuais de conflitos detectados em cada uma das 17 unidades analisadas.
Este último documento completam os dossiês individuais, já citados.
O material produzido, além de constituir os Dossiês
Individuais de Levantamento e Análise, agrupou todos os elementos
conflitantes identificados na Planilha de Incidência dos Conflitos, que
subsidiou o tratamento de cada problema detectado.
A seguir são apresentados os conflitos identificados na etapa de
campo, após revisão e validação
[1]
.
DEFINIÇÃO DE CONFLITO
ARQUITETÔNICO: “Elemento ou Requisito Arquitetônico Ausente ou Mal
Provido X Necessidade, Desejo ou Condição Humana não Satisfeito”
A• Conflitos Decorrentes da Condição Original do Empreendimento:
B•
Conflitos Gerais Decorrentes de Inserções do Usuário:
C•
Listagem Geral dos Conflitos Identificados nas Unidades: 1.a) (A)
Transição entre espaço público e privado X Condição de segurança. 1.b) (P)
Transição entre espaço público e privado X Necessidade de privacidade no
espaço familiar. 2.
(I)
Identificação da porta de entrada X Condição de acessibilidade à casa. 3. (I)
Localização do portão de pedestres X Necessidade de identificação do
acesso à casa. 4.a)
(P)
Utilização do acesso social X Necessidade de privacidade. 4.b)
(I)
Utilização do acesso social X Necessidade de comunicação da imagem do
morador. 5. (A)
Localização da área de serviço X Necessidade de ambiência para as
atividades diárias. 6.
(A)
Abrigo para veículo X Necessidade de conservação do patrimônio. 7.a) (A)
Tratamento do lote X Condição de drenagem do lote. 7.b) (I)
Tratamento do lote X Necessidade de integração com a natureza. 8.
(A)
Relação com a área pública X Condição de segurança dos transeuntes. 9.a) (A)
Relação com atividade produtiva X Condição de conforto na utilização. 9.b) (I)
Relação com atividade produtiva X Necessidade de identificação do uso
comercial. 10.a)
(A)
Interrelação dos usos X Necessidade de higiene, conservação dos
equipamentos e de conforto na utilização. 10.b)
(P)
Interrelação dos usos X Condição de privacidade. 11. (A)
Dimensionamento, localização e quantidade do equipamento e/ou mobiliário X
Necessidade de conforto na utilização e circulação. 12.a)
(A)
Dimensionamento do ambiente X
Necessidade de conforto na utilização. 12.b)
(P)
Dimensionamento do ambiente X
Condição de privacidade. 13.a) (P)
Utilização do ambiente X Necessidade de privacidade. 13.b) (A)
Utilização do ambiente X Condição de aproveitamento racional dos espaços. 13.c) (I)
Utilização do ambiente X Necessidade de comunicação da imagem do morador. 14.a)
(P)
Articulação espacial X Condição de privacidade na zona íntima. 14.b)
(A)
Articulação espacial X Necessidade de conforto na circulação e acesso. 14.c)
(T)
Articulação espacial X Necessidade de caracterização das zonas da
habitação. 15.a) (T)
Espaço de refeições X Condição de vida familiar. 15.b) (A)
Espaço de refeições X Necessidade de ambiência para as atividades
diárias. 16.
(A)
Reforma interrompida X Condições de conforto, durabilidade dos materiais e
aproveitamento racional dos espaços. 17. (A)
Armazenagem do bujão de gás X Condição de segurança. 18.
(A)
Iluminação natural e ventilação X Necessidade de conforto térmico e
lumínico, higiene e conservação dos ambientes e equipamentos. 19. (A)
Instalação elétrica e/ou telefônica X Condição de segurança. 20.a)
(A)
Estado de conservação do edifício e/ou ambiente X Condição de higiene. 20.b)
(I)
Estado de conservação do edifício e/ou ambiente X Necessidade de
comunicação da imagem do morador. 21.
(A)
Uso de materiais de revestimento X Necessidade de conforto na utilização e
ou manutenção. 22.
(A)
Dimensionamento e/ou proteção da circulação vertical X Condição de
segurança e necessidade de conforto na utilização. 23.a) (A)
Proteção e/ou manutenção dos ambientes e/ou equipamentos X Condição de
higiene, conservação e segurança. 23.b) (I)
Proteção e/ou manutenção dos ambientes e/ou equipamentos X Necessidade de
comunicação da imagem do morador. 24.
(A)
Pé-direito X Necessidade de conforto na utilização. 25. (A)
Relação do banheiro com a cozinha X Condição de conforto e higiene. E•
Planilha de Incidência dos Conflitos
•
Análise da Planilha:
- Necessidades, desejos ou condições não satisfeitas - 38
- Elementos mal providos ou inexistentes - 25
- Conflitos interferindo na dimensão fenomenológica das necessidades
humanas:
- Territorialidade - 02
- Identidade - 08
- Privacidade - 06
- Ambiência - 22
Pela análise dos dados extraídos da planilha, pode-se concluir que
mais da metade dos problemas encontrados pelos usuários em suas moradias,
dizem respeito à qualidade intrínseca da edificação, no que toca às suas
características arquitetônicas e construtivas. Esta constatação reforça a
idéia de que a solução arquitetônica determina de fato a qualidade
espacial e que isso independe diretamente da área construída. Não reside no
tamanho da edificação sua qualidade de uso e sim na forma como seus espaços
se articulam e como eles propiciam a melhor apropriação.
A sequência do trabalho indicou a necessidade de se tratar, a partir
de agora, os conflitos e não as moradias. Após uma identificação mais
"afinada", com clara descrição das diferentes maneiras como se
apresentavam (expressa no Anexo III), verificou-se a necessidade de se fazer a
distinção entre os conflitos decorrentes do mal provimento da edificação
original, ou de modificações posteriores mas sempre referentes ao edifício
e seus componentes: paredes, esquadrias, cobertura, revestimentos, etc.,
daqueles decorrentes do uso inadequado de equipamentos como móveis, cortinas,
etc.
Em função da abordagem arquitetônica, expressa desde o início do
presente relatório, a importância de tal distinção se baseia na
necessidade de olharmos exclusivamente para a edificação e verificarmos até
que ponto o projeto original oferecido, propiciou uma melhor ou pior
apropriação dos espaços resultantes. A utilização dos espaços, através
do uso de móveis e outros elementos, funcionais e simbólicos, foge da
possibilidade de ação do projetista, diz respeito exclusivamente à vida
privada das famílias e não devem fornecer senão informações sobre o
perfil sócio-cultural da população usuária e suas expectativas quanto ao
produto casa, sempre no contexto considerado.
A seguir e de maneira ilustrativa, são apresentados todos as conflitos
definidos como decorrentes da qualidade intrínseca do edifício. De forma
gráfica ou com a utilização de imagens, são igualmente expressas, a
título de exemplo, as formas como tais conflitos se apresentam nas
edificações. Ao pé de cada prancha, são alinhavadas recomendações
preliminares, que serão retomadas e aprofundadas na Etapa III- Conclusões,
descrita na sequência deste relatório.
O objetivo do detalhamento apresentado, é tornar claros os critérios
de análise e identificação utilizados pela equipe de pesquisa.
(A)
Transição entre espaço público e privado X
Condição de segurança. (P) Transição entre espaço público e privado X
Necessidade de privacidade no espaço familiar.
ü
Recomendações Preliminares:
-
Garantir recuo
-
Colocar espaço produtivo na frente do lote
-
Tratamento diferenciado para casas de esquina
(I) Identificação da porta de entrada X Condição
de acessibilidade à casa.
ü
Inversão do acesso principal (fachada frontal), com o
acesso secundário (fachada lateral)
ü
O acesso à casa se dá pela garagem, não facilitando
identificação.
ü
Recomendações Preliminares:
-
Marcação da entrada
-
Reorientar solução
(I) Localização do portão de pedestres X
Necessidade de identificação do acesso à casa.
ü
O portão de pedestre não indica a entrada da casa
nem mesmo por marcação de piso, estando em local inadequado.
ü
Recomendações Preliminares:
-
Marcação da entrada
(P) Utilização do acesso social X Necessidade de
privacidade. (I) Utilização do acesso social X Necessidade de
comunicação da imagem do morador
ü
O acesso principal se dá diretamente no espaço de
convívio da família.
ü
Recomendações Preliminares:
-
Rearranjo sala/cozinha
(A) Localização da área de serviço X Necessidade
de ambiência para as atividades diárias.
ü
Recomendações Preliminares:
-
Respeitar ítens de programa
(A) Relação com a área pública X Condição de
segurança dos transeuntes.
ü
Invasão da área pública pela rampa de acesso
ü
Invasão da área pública pelo portão da garagem
ü
Recomendações Preliminares:
-
Respeito ao espaço público
(A)
Relação com atividade produtiva X Condição de
conforto na utilização. (I) Relação com atividade produtiva X Necessidade de
identificação do uso comercial.
ü
Oficina de carros no fundo do lote, necessidade de
identificação do uso comercial
ü
Fábrica de chocolate localizada no interior da
residência sem condição de conforto na sua utilização e falta de
identificação do uso comercial
ü
Recomendações Preliminares:
-
Colocar espaços na frente do lote com potencial para
atividade produtiva
-
Marcação de entrada
(B)
Interrelação dos usos X Necessidade de higiene,
conservação dos equipamentos e de conforto na utilização. (P) Interrelação dos usos X Condição de
privacidade.
ü
Corredor entre a casa e a edícula, área de
múltiplos usos acarretando problemas quanto a higiene, conservação dos
equipamentos e conforto na utilização
ü
Sala de estar e dormitório, interrelação de usos
que causam problemas quanto a privacidade do usuário do dormitório
ü
Recomendações Preliminares:
-
Dimensionamento mais compatível com a demanda ou
construção evolutiva (em etapas)
-
Inclusão da lavanderia já no projeto original
-
Respeitar complementaridade funcional. Ex: cozinha X
lavanderia X área de varal externo
(C)
Dimensionamento, localização e quantidade do
equipamento e/ou mobiliário X Necessidade de conforto na utilização e
circulação.
ü
Quantidade excessiva de equipamentos e mobiliário
causando problemas de conforto na utilização e circulação.
ü
Quantidade excessiva e má localização do
mobiliário causando problema de conforto na utilização e circulação.
ü
Recomendações Preliminares:
-
Dimensionamento mais compatível com o programa
mínimo.
(D)
Dimensionamento do ambiente X Necessidade de conforto
na utilização. (P) Dimensionamento do ambiente X Condição de
privacidade.
ü
Dificuldades na utilização do roupeiro e problema de
circulação
ü
O quarto não atende a situação excepcional do filho
obrigando a mãe a atendê-lo na sala, causando problemas quanto a privacidade
ü
Recomendações Preliminares:
-
Dimensionamento mais compatível com o programa
mínimo.
(P) Utilização do ambiente X Necessidade de
privacidade.
(A)
Utilização do ambiente X Condição de
aproveitamento racional do espaços. (I) Utilização do ambiente X Necessidade de
comunicação da imagem do morador.
ü
A janela do quarto se abre diretamente para o “terraço”
causando problema quanto a privacidade.
ü
A degradação do ambiente e equipamentos denigre
também a imagem do morador
ü
Recomendações Preliminares:
-
Aproximação sala/cozinha
-
Dimensionamento mais compatível
-
Localização estratégica do banheiro e da cozinha em
relação ao lote
(P) Articulação espacial X Condição de privacidade
na zona íntima.
(A)
Articulação espacial X Necessidade de conforto na
circulação e acesso. (T) Articulação espacial X Necessidade de
caracterização das zonas de habitação.
Necessidade de conforto na circulação
Necessidade de
caracterização do espaço
Quartos cuja aberturas estão voltadas diretamente
para sala causando falta de privacidade na zona íntima
ü
Recomendações Preliminares:
-
Reagrupar espaços
(A) Reforma interrompida X Condição de conforto,
durabilidade dos materiais e aproveitamento racional dos espaços.
ü
Laje sem impermeabilização causando problema quanto
a durabilidade dos materiais e causando desconforto na utilização dos demais
ambientes da casa
ü
Recomendações Preliminares:
-
Racionalizar etapas
(A) Iluminação natural e ventilação X Necessidade
de conforto térmico e lumínico, higiene e conservação dos ambientes e
equipamentos.
ü
Cozinha com abertura para outro ambiente da casa
causando problemas quanto ao conforto térmico e lumínico, higiene e
conservação dos ambientes e equipamentos
ü
Quarto com abertura para a garagem causando problemas
quanto ao conforto térmico e lumínico, higiene e conservação dos ambientes
e equipamentos.
ü
Recomendações Preliminares:
-
Qualificar aberturas e revestimentos
(A) Dimensionamento e/ou proteção da circulação
vertical X Condição de segurança e necessidade de conforto na utilização.
ü
Falta de proteção na circulação vertical causando
problemas quanto a segurança
ü
Desconforto na utilização da circulação vertical
ü
Recomendações Preliminares:
-
Correção dimensional
(A)
Proteção
e/ou manutenção dos ambientes e/ou equipamentos X Condição de higiene,
conservação e segurança. (I) Proteção e/ou manutenção dos ambientes e/ou
equipamentos X Necessidade de comunicação da imagem do morador.
ü
Ambiente e equipamento degradados
ü
Ambiente sem manutenção
ü
Recomendações Preliminares:
-
Qualificar soluções
(B)
Pé-direito
X Necessidade de conforto na utilização
ü
Barbearia em espaço residual, pé-direito baixo e
confinamento
ü
Área de serviço e depósito em espaço residual,
pé-direito baixo e confinamento
ü
Recomendações Preliminares:
-
Adequar o projeto à topografia do terreno
(C)
Relação
do banheiro com a cozinha X Condição de conforto e higiene.
ü
Recomendações Preliminares:
-
Racionalizar articulação espacial Os
conflitos considerados como não inerentes às condições intrínsecas do
edifício, tiveram o suporte das seguintes considerações:
Conflito
6.
(A) Abrigo para veículo X Necessidade de conservação do
patrimônio.
Na única ocorrência (UH 03), apesar dos problemas decorrentes da
ausência de abrigo, o morador não é o proprietário e a garagem existente,
construída anteriormente ao tempo de moradia, abrigava um ponto comercial,
por opção do próprio morador. É portanto uma questão que foge da ação
do projetista, apesar de reforçar a necessidade de se oferecer um projeto
mais flexível, como se verá mais adiante neste relatório.
Conflito 7 (A) Tratamento do lote X Condição de
drenagem do lote.
(I)
Tratamento do lote X Necessidade de integração com a natureza.
O lote original é entregue sem qualquer calçamento. Em todas as
ocorrências, UHs 01,05,07,10,12,13,14 e 17, o calçamento integral do lote
parece responder a uma vontade individual de cada proprietário, expressa nos
depoimentos que confirmam a necessidade de "redução do trabalho
doméstico". A necessidade de recuperar o verde de algum outro modo, para
alguns moradores, é expressa na existência de vasos com plantas artificiais
em algumas casas. Aqui também vê-se uma questão fundamentalmente
simbólica, que escapa à ação do projetista.
Conflito 15 (T) Espaço de refeições X Condição de vida familiar.
(A)
Espaço de refeições X Necessidade de ambiência para as atividades
diárias.
Na única ocorrência, UH 16, uma habitação de 2Q que abriga uma
família de 6 pessoas, foi necessária a utilização da sala como
dormitório. Estando a edificação ainda em seu estado original, a cozinha,
ínfima, não incorpora o espaço para refeições, o que obriga a família a
abrir mão deste espaço (que no caso poderia ter sido incorporado à sala) em
favor da filha caçula. No caso, a equipe de pesquisa considerou que uma
edificação de 2Q não está dimensionada para 6 pessoas e sim para 4. Daí
decorre na verdade todo o problema.
Conflito 17 (A) Armazenagem do bujão de gás X Condição de
segurança.
Em todas as ocorrências, UHs 02,03,04,06,08,09,10,11,13,14,15 e 16,
este equipamento está armazenado ora confinado ora sem qualquer segurança,
apesar da edificação oferecer condições mínimas para tal. Pela análise,
parece haver uma desinformação generalizada quanto à forma correta e segura
de fazer tal armazenamento.
Conflito 19 (A) Instalação elétrica e/ou telefônica X Condição
de segurança.
Em todas as ocorrências, UHs 01,03,05,09,10,15,16 e 17, o grande
problema é de quantidade. Os moradores são obrigados a utilizar extensões,
para atender todos os eletrodomésticos. No caso, não se trata de uma
deficiência do projeto original e sim uma negligência dos promotores quanto
ao projeto elétrico e de telefonia.
Conflito 20 (A) Estado de conservação do edifício e/ou ambiente X
Condição de higiene.
(I)
Estado de conservação do edifício e/ou ambiente X Necessidade de
comunicação da imagem do morador.
Em todas as ocorrências, UHs 01,05,09,14 e 16, a situação envolve
uma flagrante falta de manutenção dos ambientes e do edifício, de
responsabilidade exclusiva do morador. Conflito 21 (A) Uso de materiais de revestimento X Necessidade de
conforto na utilização e ou manutenção.
Nas ocorrências, UHs 07,10,11,12,15 e 16, o problema envolve a escolha
do material de revestimento (que nos casos não resistem à ação das
intempéries) ou da cor desse revestimento (em alguns casos muito escuras,
interferindo negativamente na difusão da luz natural dentro dos ambientes),
não dizendo respeito diretamente à solução arquitetônica e construtiva.
Em todos os casos, a escolha coube ao morador, introduzindo mudanças em
relação à proposta original. A equipe entende que faltou uma assessoria
técnica ao morador na hora dessa escolha, assessoria esta que poderia ter
sido fornecida por quem vendeu os produtos.
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