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Apropriação Conclusões
Nesta etapa dos trabalhos foram relidos todos os documentos obtidos
deste o início da pesquisa. Desta maneira pode-se agrupar os conflitos
detectados em função da problemática tratada. Cada grupo de conflitos foi
analisado e posteriormente foram traçadas as recomendações e alternativas
para correção dos mesmos.
1. Introdução
Baseado nos dados referentes à identificação e análise dos
conflitos existentes no projeto das habitações analisadas, na posterior
verificação das relações entre os conflitos existentes, as
características espaciais dos ambientes da casa e os usos dados pelos
moradores a cada ambiente, a pesquisa chega à sua etapa conclusiva, onde se
propõem indicativos para formulação de novos projetos de habitação
popular que revisem os conceitos utilizados até o presente momento pelo poder
público, visando a qualificação dos espaços de morar das populações de
baixa renda, através da melhoria dos espaços tanto do interior da
edificação quanto do lote, da fixação do homem à sua casa e da
satisfação de um leque mais amplo de necessidades familiares.
2. Elementos Geradores de Conflitos
Com a análise dos conflitos, foi possível identificar alguns pontos
críticos dentro da casa e do lote, nós
onde as atividades referentes à vida dioturna das habitações fica
prejudicada, pela inexistência ou mau provimento de elementos arquitetônicos.
A esses nós, denominamos Elementos
Geradores de Conflitos. Tais elementos foram
agrupados em três níveis, a saber:
Nível 1 - referente às relações extra-lote
Nível 2 - referente às relações casa-lote-rua
Nível 3 - referente às relações intra-muros
Entende-se que a resolução dos problemas referentes a cada nível,
imporá a resolução dos conflitos gerados por seus elementos.
3.Requisitos Necessários Definição:
Chamou-se de requisitos necessários, os ítens capazes de causar
interferência direta em um ou nos três níveis e subníveis dos elementos
geradores de conflitos, citados anteriormente. Por isso devem ser consideradas
as recomendações específicas no momento da concepção projetual. Está na
utilização correta de tais requisitos, a garantia do projeto alcançar as
melhores condições de habitabilidade e flexibilidade.
• Requisitos Ambientais
Definiu-se como requisitos ambientais, os atributos responsáveis pela
resposta de projeto frente os condicionantes climáticos na estruturação,
articulação, conforto e salubridade da unidade ou do conjunto.
Chamou-se de elementos naturais o
vento - com ação direta na ventilação;
o sol - com ação na insolação e iluminação natural e o
relevo - com ação básica na possibilidade de implantação da unidade
no lote e no escoamento das águas pluviais. O entendimento é de que os
requisitos ambientais devem agir corretamente em cada nível de elementos
geradores de conflitos, basicamente todos os conflitos de ordem ambiental. Avaliação
e Recomendações:
A falta de flexibilidade do projeto original, verificado nas unidades
analisadas, comprometeu os
requisitos ambientais mínimos de habitabilidade, gerando ambientes muitas
vezes confinados, com carência na iluminação e na ventilação. Não houve
preocupação com a disposição da casa no lote, interferindo na orientação
solar dos espaços e prejudicando a captação de ventos predominantes.
Recomenda-se que tanto o desenho do lote quanto a disposição da casa
e dos espaços internos devam estar atendendo os requisitos mínimos de
conforto. O atendimento à melhor orientação solar e à topografia deve
surgir à partir de implantações diferenciadas, de acordo com o sítio em
que está inserido, devendo ser trabalhadas alternativas projetuais para uma
melhor aproveitamento do espaço à partir da correta utilização dos
elementos ambientais. A utilização de tipologias variadas segundo a
localização do lote e a topografia, reduz custos gerados pela necessidade de
construção de muros de arrimo, facilitando ainda o acesso, a insolação, a
ventilação e a drenagem do lote.
Com o intuito de solucionar os problemas referentes ao não atendimento
dos requisitos ambientais, o atributo da flexibilidade será um fator
preponderante. A orientação já no momento do projeto das ampliações,
evitará espaços confinados, mal iluminados e mal ventilados.
Recomenda-se também que além da preocupação com a orientação dos
ambientes da casa em relação ao sol e ventos predominantes, seja dado
especial cuidado ao dimensionamento das aberturas, à escolha dos materiais de
revestimento (preferencialmente de cores claras e de fácil manutenção) e a
escolha correta da cobertura mais apropriada ao contexto.
Síntese: • propor lote adequado à
topografia
• implantar a edificação no lote, diferenciada em função da
inserção no meio natural
• implantar a edificação segundo a condição de insolação e
ventilação
• dimensionar corretamente as aberturas
• Requisitos Dimensionais
Requisitos dimensionais referem-se às dimensões e áreas mínimas
necessárias ao atendimento das condições de segurança e habitabilidade,
expressas nos espaços necessários à localização e ao uso dos equipamentos
bem como à circulação dos ambientes. O não atendimento a esses requisitos
interfere negativamente na articulação espacial gerando conflitos de ordem
objetiva (ex: riscos de acindentes) e subjetiva (ex: dificuldades na
apropriação espacial). Avaliação
e Recomendações:
Muitos dos conflitos detectados no estudo de caso, estavam vinculados a
um subdimensionamento dos ambientes no projeto entregue ou eram consequência
de uma ampliação equivocada, realizada pelo morador na tentativa de melhorar
sua residência.
O projeto original deve ser capaz de atender as necessidades básicas
do usuário, principalmente na questão dimensional, de forma a articular da
melhor maneira possível os espaços criados.
Recomenda-se que a unidade habitacional esteja dimensionada adequadamente para o uso a qual se
destinam os ambientes, com a preocupação de não sobrepor a área de uso com a circulação.
Os ambientes devem ser dimensionados levando-se em consideração os
equipamentos básicos que deverão compor o espaço. Como exemplo, a
lavanderia deverá atender as necessidades de dimensionamento e instalação
de equipamentos suplementar para as atividades de lavar roupas, com máquina
de lavar e varal suspenso. Deve ainda permitir minimamente o cumprimento das
atividades de passar roupas e armazenagem de material de limpeza. A cozinha
deve respeitar o dimensionamento mínimo necessário para o uso dos
equipamentos básicos, assim como o banheiro.
No ponto de vista da circulação interna da moradia, corredores e
escadas devem respeitar condições mínimas de qualidade quanto às
dimensões e quanto aos atributos de segurança. Piso antiderrapante e
corrimão, por exemplo, são elementos que garantem maior segurança e
conforto no uso de corredores e escadas, principalmente para crianças e
idosos.
Com relação ao conjunto e aos espaços coletivos, as dimensões devem
atender o mínimo de conforto, com espaços previstos para os equipamentos
necessários e possuir escala compatível com o homem, com dimensões
reduzidas, podendo com isso aumentar o número de espaços coletivos de
menores dimensões, ao mesmo tempo que facilita a propriação desses
espaços.
Síntese:
• não sobrepor área de uso do equipamento com área de passagem
• dimensionar os ambientes para instalação dos equipamentos
básicos
• dimensionar os espaços coletivos de acordo com a escala humana
4. Recomendações de Projeto •
Nível 1 - Relações Extra-Lote Problema:
Número excessivo de unidades implantadas em baixa densidade, com grande
dispêndio de solo urbano; espaços públicos inadequados ao uso; grande
distância entre o assentamento e a área urbana.
•
Recomendações 4
Adotar-se proposta projetual com aumento da densidade, a partir da revisão
tipológica e do parcelamento do solo.
Pode parecer no primeiro momento uma solução que visa apenas a
redução dos custos, principalmente os relativos à infra-estrutura urbana.
Entende-se entretanto que, em ações para a faixa de renda a que se destina
este estudo, é essencial a redução dos custos sem com isso comprometer o
atendimento às necessidades familiares e individuais destacadas ao longo
desta pesquisa.
A substituição de uma área destinada a um único conjunto de grandes
dimensões, por vários conjuntos de menores dimensões, não acarreta aumento
significativo nos custos de infra-estrutura. Além disso, traz vantagens
adicionais no que diz respeito a um maior nível de habitabilidade, que não
é alcançado no primeiro caso.
Um conjunto habitacional de proporções reduzidas apresenta, na sua
relação com a cidade, uma inserção melhor estruturada. Esta estruturação
reflete-se em uma relação de escala mais apropriada, que tende a fixar o
morador ao território, garantindo uma melhor apropriação dos espaços
internos e externos, privados e públicos. Torna tais espaços de mais fácil
leitura e controle, de forma a atender mais eficazmente as necessidades
humanas de identidade, privacidade e territorialidade. 4
Qualificar os espaços coletivos.
Os conjuntos habitacionais de baixa renda devem possuir espaços
coletivos de qualidade. Para que isto ocorra, é necessário criar, ainda no
projeto, elementos que estruturem tais espaços e que impeçam o surgimento de
áreas ociosas e desqualificadas ao uso da população. A importância da
utilização de uma escala urbana mais adequada ao usuário é fundamental,
uma vez que ele necessita criar laços com o espaço para que a apropriação
possa acontecer.
A qualidade requerida deve surgir da combinação de percursos
agradáveis com pontos estratégicos de lazer, hierarquizando o caminho
utilizado pelo pedestre e inserindo estes percursos na utilização diária
por parte do morador. No tratamento desses espaços deve ser empregado
mobiliário urbano adequado e suficiente, como postes de iluminação
pública, bancos, lixeiras, telefones públicos. Nesses espaços, devem
primordialmente ser criados pontos focais definidos. A vegetação deve ser
permanente, de fácil manutenção mas que crie sensações diferentes,
tornando os espaços mais interessantes e agradáveis.
Com relação às áreas de lazer e recreação, para a sua melhor
adequação ao uso, é preciso que se defina prioritariamente a que faixa
etária cada espaço proposto se destina. É importante ressaltar que as
necessidades de lazer e recreação mudam em função da idade e que nem
sempre tais necessidades são compatíveis entre si. A concentração de toda
a área de lazer e recreação num único e grande espaço, não significa
qualificá-lo ao uso, ao contrário, pode estar proposta uma zona de conflito
onde o mais forte imporá seu direito.
Se a estratégia de projeto pressupor a existência de várias e
pequenas áreas de lazer e recreação, definidas e equipadas adequadamente
às atividades a que se destinam, certamente permitirá uma melhor
apropriação do usuário específico, reduzindo riscos e conflitos.
Os programas devem atender diferentes faixas etárias, facilitando o
uso pela criança com diferentes necessidades, bem como o adulto e o idoso.
Sendo os espaços coletivos, elementos estruturadores do desenho, devem
explorar pontos estratégicos, levando sempre em consideração a
acessibilidade - com acessos pavimentados -
e interação com os demais elementos do entorno.
Assim como a dimensão reduzida do conjunto pode gerar sensação de
segurança, facilitando a apropriação dos espaços, o mesmo ocorre com o
espaço coletivo. Espaços com menores dimensões, destinados a menor número
de pessoas, será mais propício à utilização e à apropriação.
Entende-se que tais espaços devem ser entregues prontos, estruturados
e definidos quanto aos percursos, vegetação básica e mobiliário urbano
mínimo. Entende-se finalmente que é possível a requalificação dos
espaços inseridos em conjuntos homogêneos, a partir de propostas de novos
desenhos, sem que para isso seja necessária uma elevação significativa nos
custos, atendendo desta forma as necessidades individuais dos usuários, como
condicionante essencial do habitat social.
Sendo o espaço público/coletivo bem estruturado, pode-se proceder a
uma revisão no sentido da redução do espaço privado/individual. Muitas das
atividades que ocorrem tradicionalmente dentro do lote, por exemplo, podem
passar a ocorrer fora dele.
Síntese:
• propor conjuntos com número mais reduzido de unidades
• oferecer tipologias que propiciem maior economia de escala •
fixar o morador pela oferta de espaços de fácil apropriação
• criar elementos que proporcionem o sentimento de inserção no
contexto
• estruturar e qualificar os espaços coletivos do conjunto
• utilizar pavimentação adequada ao uso específico dos espaços
• criar percursos com pontos focais
• hierarquizar percursos de pedestres e veículos
• criar ambientes diferenciados e permeáveis
• atender diferentes faixas etárias no programa dos espaços
coletivos
• dimensionar os espaços coletivos de forma compatível com a escala
humana
• propor uma vegetação permanente e de fácil manutenção
•
Nível 2 - Relações Casa - Lote - Rua Problema:
Difícil identificação da entrada do lote e da casa; inversão funcional
frente X fundos; parcelamento do solo inadequado à topografia; má relação
com o entorno (espaço público); má inserção de espaços produtivos.
•
Recomendações 4
Aproximar funcionalmente sala e cozinha, dispostas na edificação, próximas
da rua.
Dentre os conflitos detectados, o mais frequente é a ineficiência do
desenho da edificação quanto às possibilidades de identificação da
entrada da casa e do lote. No caso da casa, a maior parte das análises
demonstra uma inversão nas atividades desenvolvidas pelos moradores no
espaços frontais (sala) e de fundo (cozinha) da edificação. A utilização
deste último como ambiente de entrada na residência, detectado em 90% das
unidades analisadas, surge como elemento gerador de eixos de circulação mal
definidos e truncados. A solução parece estar em uma melhor integração dos
dois ambientes (sala/cozinha), para que o acesso possa acontecer próximo ao
real espaço de vivência familiar - a cozinha - sem com isso desqualificar a
sala que desta forma terá uma melhor condição de apropriação.
Quanto ao lote, o acesso principal não possui clareza, sendo de
difícil identificação. É necessário pensar-se o projeto de forma a articular mais
eficazmente à entrada lote/casa, sem esquecer que a privacidade dos espaços
internos deve ser garantida. A entrada principal da casa deve ficar próxima
à rua, mas protegida visual e fisicamente. Sua posição no lote deve estar
estruturada de modo a, em
possíveis ampliações, sua localização não sofra alteração.
Não esquecer que em terrenos de esquina, são duas as frentes com o
que a casa deve se relacionar. Neste caso, é conveniente que a porta
principal esteja disposta próxima à esquina, facilitando a visualização
pelas duas frentes do lote.
Em nenhum dos casos, os espaços de uso privativo da família ou
instrumentos de delimitação como muros ou portões, podem invadir calçadas
e outros espaços públicos. 4
Dispor a casa no lote de modo a potencializar as possibilidades de
ampliação, que devem ser previstas já na etapa de projeto.
Entende-se que a forma de ampliação da casa no lote é um ponto
fundamental na qualificação da relação casa/lote/rua. Os lotes de esquina
e os de meio de quadra devem atender a requisitos específicos à sua
condição no conjunto, apesar de possuírem pontos em comum.
O melhor aproveitamento do lote está diretamente condicionado à
localização da edificação. A tipologia aplicada no conjunto analisado
apresenta a unidade isolada no lote, determinando afastamentos laterias que
induzem a um mau aproveitamento quando de uma ampliação da edificação: de
um lado, sobre o menor afastamento, as ampliações possíveis apenas
acrescentam áreas a ambientes já existentes, muitas vezes confinando áreas
internas da casa; de outro lado, sobre o maior afastamento, na maioria dos
casos surge a “entrada de garagem”, destinando grande parcela do lote ao
uso exclusivo do veículo. Tal espaço geralmente não é tratado para uso do
morador, retringindo-se a um eventual apoio às atividades de serviço.
A garagem deve surgir sempre como etapa posterior de ampliação à
edificação original e nunca no fundo do lote. Para tal é necessário que o
recuo frontal estabelecido permita a instalação de tal espaço, sem
interferir na perfeita identificação da entrada da casa.
Além da garagem, é necessário que as possibilidades de ampliação
da moradia possa incorporar um espaço produtivo, cada vez mais presente em
conjuntos habitacionais de baixa renda. Este espaço, em função de suas
características, pode vir a ocupar a sala ou um dos dormitórios da casa,
transferidos no caso para uma área nova ou ainda ocupar uma parte nova da
edificação.
No caso da existência de espaço produtivo junto à moradia, é
apropriado que seja criada entrada diferenciada para este espaço, sempre que
possível, como forma de preservar ambas as funções. Para que haja uma
articulação eficiente dos dois acessos, é preciso que o espaço produtivo
seja criado na frente do lote, facilitando a circulação de pessoas
estranhas, enquanto preserva a privacidade do espaço habitacional.
Os projetos originais implantados no conjunto analisado, utiliza um
recuo frontal de 4 metros, deixando a maior parcela do terreno nos fundos do
lote. Significa dizer que ao mesmo tempo que propicia o surgimento de
atividade produtiva neste local, diversos conflitos são gerados
fundamentalmente ligados a questão dimensonal. Recomenda-se então que, caso
haja, seja definido um
recuo frontal de no mínimo 5 metros, que dá condiçõs para que surja
um espaço produtivo ou mesmo uma
garagem, sempre articulados diretamente com a rua, sem necessitar ocupar uma
parcela maior de lote, destinando desta forma mais espaço para as atividades
habitacionais.
No caso dos lotes de meio de quadra, é necessário garantir que o
espaço produtivo não ocupe mais que 50% da testada, para que a entrada
habitacional não seja prejudicada ou descaracterizada. Já nos lotes de
esquina, por apresentarem duas frentes, uma é geralmente considerada
principal, e tratada como tal, e a outra é secundária, permanecendo às
vezes sem qualquer tratamento. Nestes lotes, no caso de existir ponto
comercial, é apropriado que seja usada uma das frentes como entrada pública
e a outra como entrada residencial, garantindo assim duas entradas distintas e
devidamente tratadas.
A criação de um espaço destinado à atividade produtiva junto à
unidade habitacional, não descarta a necessidade de se destinar no conjunto,
um espaço próprio para as atividades de comércio formal. Esta área deveria
ser mista, abrigando ao mesmo tempo conjuntos comerciais e unidades
habitacionais, sem lançar mão de altos gabaritos, com se vê em zonas
centrais das cidades brasileiras. Tais áreas devem inclusive servir como
ponto referencial dentro do conjunto.
Síntese: • possibilitar a
criação de espaço produtivo na frente do lote
• tratar de forma diferenciada as casas de esquina
• quando houver, estabalecer recuo mínimo frontal de cinco metros,
permitindo a guarda do veículo dentro do lote
• ocupar a frente do lote de no máximo 50% da testada
• propor construção evolutiva (projeto em etapas), absorvendo o
aumento do número de dormitórios ou a inserção de
espaço produtivo na casa
• quando a edificação ocupar a frente do lote, propor uma
diferença de nível, garantindo privacidade ao espaço
privativo
• quando for o caso, criar acessos independentes para o espaço
produtivo e para o espaço habitacional
•
Nível 3 - Relações Intra-Muro Problema:
Ampliações desqualificadas, subdimensionamento e rigidez funcional dos
ambientes; articulação espacial ineficiente.
•
Recomendações 4
Propor a construção em etapas, com várias alternativas para ampliação do
"embrião".
Dos casos analisados foi possível perceber que as ampliações
promovidas pelos usuários geravam um subdimensionamento nos ambientes e uma
interferência negativa na articulação espacial. Conflitos que seriam
solucionados se tais ampliações fossem pensadas ainda na fase de projeto,
garantindo às unidades uma maior flexibilidade, sem perda da qualidade
espacial e funcional dos espaços existentes.
O dimensionamento adequado para o uso ao qual se destinam os espaços
internos, é fundamental, assim como a articulação espacial da casa. A forma
de articular os ambientes, deve começar pelo acesso à unidade habitacional,
que precisa ter relação direta com o espaço de vivência. Nos casos
analisados, a cozinha passou a ser o ambiente da casa utilizado para realizar,
além das funções de serviço, também as funções sociais. Em alguns
casos, a entrada culminou por se transferir para este espaço. A sala, que por
sua vez, deveria corresponder ao espaço de vivência, deixou de ter função
social, ganhando carater puramente decorativo e simbólico. Percebe-se que o
elemento gerador destes conflitos é uma deficiência na articulação entre
sala e cozinha. Recomenda-se, como já foi dito, que as soluções sejam
direcionadas no sentido de aproximar estes dois ambientes, criando, se
necessário, um único espaço integrado. 4
"Zonear" a casa de forma a preservar a privacidade da zona íntima,
mesmo após a construção das etapas subsequentes da obra. Garantir espaço
para todas as atividades básicas da
moradia.
Outro fator percebido nas análises realizadas, é o que se refere à
disposição dos ambientes. Deve-se evitar a exposição da área íntima em
relação ao espaço sala/cozinha, principalmente nas casas térreas. É
importante também não permitir a superposição da área de uso dos
equipamentos com a área de circulação. A circulação cruzada deve ser
evitada para não comprometer o uso e a privacidade dos ambientes.
No conjunto estudado, o projeto original das unidades não destinava
espaço para a lavanderia. Dentre os conflitos descritos, muitos ocorreram
pela ausência deste espaço na edificação: muitas das atividade inerentes
à lavanderia, passam a ser cumpridas em outros anbientes, interferindo
diretamente no bom funcionamento dos mesmos. Por isso, recomenda-se que a
lavanderia deva constar já no programa original, garantindo as áreas de uso
dos equipamentos, sem com isso interferir na circulação dos ambientes. A
lavanderia deve ainda estar articulada com a cozinha e com a área externa de
varal, garantindo uma melhor fluidez nas ativades específicas. 4
Racionalizar os custos do empreendimento através da aproximação das zonas
úmidas de duas ou mais unidades.
Com relação à redução dos custos com infra-estrutura, uma boa
medida é o projeto original garantir a aproximação das áreas molhadas
(banheiro, cozinha, área de serviço), sem permitir uma relação inadequada
entre a cozinha e o banheiro. Isso é possível quando, apesar de cozinha e
banheiro dividirem a mesma parede hidráulica, os acessos permanecem
distantes.
Na busca de uma redução macro dos custos do empreendimento,
recomenda-se ainda que seja efetuada uma revisão tipológica da solução
habitacional, substituindo a casa isolada no lote por casa conjugadas duas a
duas ou mesmo em fita, o que racionaliza ao máximo as redes de infraestrutura
urbana (eletrificação, esgoto, abastecimento de água, etc...).
Quanto ao programa mínimo para a unidade habitacional, no caso de
conjuntos para mais baixa renda, recomenda-se a criação de um
"embrião" contendo sala, cozinha, lavanderia e banheiro, sendo que
a sala deve funcionar como espaço de uso múltiplo, podendo ou não estar
integrada à cozinha. Seria entregue o embrião e conforme as condições
financeiras do usuário, o projeto direcionaria as ampliações sem prejudicar
a relação da edificação com o lote ou a articulação interna dos
espaços. As ampliações seriam realizadas à partir deste embrião,
preservando integralmente as áreas molhadas, a parte mais onerosa da obra. Em
conjuntos para famílias de renda um pouco mais elevada, ao embrião entregue
pode ser acrescido de um e no máximo de dois dormitórios, possiblitando o
acesso a uma fatia maior da população. As ampliações devem
preferencialmente preservar as condições mínimas de permanência da
família na casa, ainda durante a obra.
Em ambos os casos citados, o princípio da construção em etapas deve
ser aplicado, com previsão de crescimento da moradia até 3 ou 4
dormitórios, permitindo assim o surgimento de espaços produtivos dentro da
residência, sem prejuízo do espaço habitacional.
O projeto original deve respeitar os espaços mínimos necessários, em
atendimento aos requisitos de conforto, e deve ainda oferecer condições para
que as famílias que desejam áreas maiores, possam obtê-las através da
realização de ampliações. Isto só será possível à partir de um projeto
mais flexível, que incorpore, além da construção em etapa, uma
característica multifuncional aos ambientes menos especializados da moradia,
como salas e dormitórios.
Síntese:
• articular entrada com o espaço de vivência
• garantir a aproximação das áreas molhadas
• garantir a aproximação entre banheiro e zona íntima
• evitar circulações cruzadas
• propiciar a integração entre sala e cozinha
• garantir a articulação básica dos ambientes desde a primeira
etapa de construção, mantendo esta articulação
nas
etapas subsequentes
• flexibilizar as ampliações
Na sequência, cada ambiente da casa será tratado, incluindo a
síntese da análise realizada e as recomendações ambientais e dimensionais
[1]
que se fizerem necessárias à qualificação dos espaços e por
conseguinte dos projetos das edificações.
A SALA
Nos casos analisados, a sala
se apresenta como um sério elemento gerador de conflitos. A sua existência
na grande parte das unidades, não possui caráter prático. Em função das
características sócio-culturais dos usuários, este ambiente ganha caráter
"vitrinista"
[2]
ou o que batizamos de sala-museu.
As funções que caberiam tradicionalmente a este ambiente, são geralmente
transferidas para a cozinha, acumulando a função social com a de serviço.
Entende-se que não se pode eliminar por completo a sala do programa
mínimo da habitação social no contexto considerado, exatamente por atender
àquela questão cultural. Pode-se propiciar entretanto, uma mudança no atual
conceito de sala, sempre no contexto considerado, aproximando-a do real
espaço de convívio familiar, no caso presente a cozinha, estabelecendo uma
articulação mais efetiva desses ambientes e incrementando sua utilização.
Considerações dimensionais estão apresentadas no Quadro I.
OS DORMITÓRIOS
Apesar dos dormitórios terem sido os espaços menos modificados nos
casos analisados, com exemplos onde nenhuma modificação foi efetuada, a
estrutura proposta originalmente e suas reduzidas dimensões, induzem a um
baixo nível de conforto, muitas vezes ligado ao número excessivo de peças
de mobiliário ou às dimensões inadequadas das mesmas. Além desses
problemas, que no caso não podem ser atribuídos diretamente ao projeto da
edificação, verificou-se: •
camas de casal dispostas coladas a uma das paredes, função do
subdimensionamento do ambiente. •
dificuldade de acesso a peças de mobiliário, em função de circulações
muito reduzidas. •
má disposição da janela, induzindo a uma obstrução involuntária do
acesso, geralmente pela colocação da cama ou gaveteiro. •
escolha inadequada do tipo de esquadria da janela, geralmente obstruindo a
metade do vão de abertura, prejudicando a ventilação higiênica do
ambiente.
De modo geral, todos os dormitórios, aqueles definidos tanto no
embrião quanto nas etapas subsequentes da construção, devem compor uma zona
íntima, preservada visualmente da cozinha, podendo ter ligação direta
com a sala. Em edificações que iniciam com apenas um quarto, este deve
atender as necessidades mínimas de conforto para um casal ou duas pessoas. Em
edificações de dois dormitórios, um deles deve atender a este requisito. O
segundo quarto deverá ser dimensionado para receber uma cama ou um beliche.
Em todos os casos, os dormitórios devem ser orientados para captar
preferencialmente o sol da manhã e a esquadria proposta deverá liberar todo
o vão de abertura. As aberturas deverão ser dispostas no ambiente de modo a
não induzir obstrução ao seu acesso, seja à janela, seja à porta. Os
requisitos dimensionais referentes aos dormitórios, podem ser encontrados no
Quadro II/1 e II/2.
A COZINHA
Como a cozinha ganha funções práticas que caberiam à sala, este
ambiente passa a cumprir um papel múltiplo dentro da casa, somando o caráter
social ao de serviço. Destaca-se como o principal ambiente articulador
familiar, por ser utilizado como espaço de convívio dioturno, onde os
usuários tanto podem receber visitas quanto se relacionar durante os momentos
de preparo do alimento ou de refeições, por exemplo.
O projeto original do
conjunto habitacional analisado não considerou estas características
sócio-culturais da população-alvo, deixando de considerar ainda as
dimensões mínimas necessárias à perfeita utilização tanto dos
equipamentos quanto dos espaços. Por isso, recomenda-se que a cozinha seja
"zoneada", com perfeita articulação das atividades desenvolvidas
neste espaço, com zonas oferecidas já na primeira etapa de construção e
outras, proporcionadas à partir das ampliações previstas em projeto.
Recomenda-se assim, que a zona entregue na primeira etapa de
construção, atenda prioritariamente as atividades de armazenamento de
alimentos e utensílios (armários e geladeira), e local de preparo de
alimentos (fogão e pia). Deve ainda ser entregue uma área mínima destinada
à atividade de comer, com possibilidade de colocação de mesa para 4
lugares.
As ampliações previstas em projeto, devem prever alterações sem que
haja necessidade de deslocamento das instalações hidráulicas e, quando
possível, também as elétricas, facilitando a ampliação e reduzindo os
sobrecustos.
Quanto ao acesso externo a este ambiente, recomenda-se que ele
aconteça preferencialmente pelo "comedor"
[3]
, preservando a circulação e o espaço de preparo de alimentos.
No Quadro III podem ser encontradas as recomendações dimensionais referentes
a este ambiente da casa.
A LAVANDERIA E ÁREA DE SERVIÇO
Um dos problemas mais graves apresentados pelo projeto original, nos
casos analisados, foi a ausência de um espaço destinado para a lavanderia,
ou seja, a parte coberta da área de seviço, fazendo com que as atividades
afetas a este espaço, passem a ocorrer fora da edificação, exposta portanto
às intempéries, ou inseridas em ambientes da casa não compatíveis com tal
função.
Como forma de minimizar o efeito da inexistência deste ambiente, fica
a recomendação de que a área de serviço, tanto a parte coberta
(lavandeira) como a descoberta (zona de varal), conste já do programa do
projeto original da unidade. O programa interno deste ambiente deve atender
às necessidades mínimas de uso dos equipamentos e à circulação.
Desta forma, a lavanderia deve atender às necessidades dimensionais e
de instalação dos equipamentos referentes à sua utilização, garantindo
espaço mínimo para o tanque e um equipamento complementar (máquina de lavar
ou mesa para passar roupa). Deve ainda propiciar o espaço para um pequeno
varal de teto e armazenagem do material de limpeza, distanciando-os, por
segurança, do local de armazenagem dos alimentos. Estas atividades devem
funcionar sem que ocorra interferência nociva na circulação do ambiente.
Deve estar inserida na casa de maneira a garantir uma melhor
articulação com a cozinha e com a área externa de varal. Esta área externa
deve possibilitar a guarda do botijão de gás, como requisito mínimo de
segurança e a colocação de um equipamento de lazer ou hobby (pequena
churrasqueira ou uma horta). Deverá finalmente garantir os requisitos
ambientais de ventilação e insolação dentro do lote tanto na etapa inicial
da construção quanto nas ampliações previstas. O Quadro IV mostra os
requisitos dimensionais referentes a este ambiente da casa.
O BANHEIRO
O banheiro deve estar preferencialmente incorporado à área íntima,
mas não deve se distanciar em demasiado da área de convívio familiar. Sua
implantação deve permitir acréscimos de área na casa, tanto neste ambiente
quanto em outros ou o acréscimo de ambientes novos, sem prejudicar a
estrutura espacial e/ou a circulação. Por isso, o banheiro deve surgir longe
da zona "ampliável"
[4]
, posicionado-se de forma transversal ao sentido preferencial da
ampliação ou do maior comprimento do lote, evitando desta forma, o
confinamento ambiental - o que ocorre na maioria dos casos - ou a demolição
de partes prontas, o que gera desperdícios significativos.
Se o banheiro estiver próximo à cozinha, a porta de acesso deve estar
em uma relação indireta com este ambiente, garantindo privacidade e
preservando a higiene. Além disto, o projeto, em sua primeira etapa de
construção, deve possuir uma estrutura de funcionamento interno onde a rede
hidráulica esteja localizada em uma mesma parede, reduzindo custos de
infra-estrutura e orientando futuras ampliações. Sendo o ambiente mais
especializado da casa, os requisitos mínimos dimensionais de seu projeto,
devem ser respeitados, sob risco de inviabilizar seu uso. Tais requisitos
podem ser encontrados no Quadro V.
[1]
Baseado em:
SILVA, Elvan. (1982) Geometria Funcional dos
Espaços da Habitação.
[2]
Espaço de
aparência, na maioria das vezes contendo mobiliário especial, que destoa
dos demais ambientes da casa e onde atividade alguma é exercida.
Território interditado às crianças, cumpre uma função exclusivamente
simbólica.
[3]
Espaço
destinado às refeições, ora localizado no ambiente de cozinha - a copa -
ora localizado no ambiente de sala - a sala de jantar.
[4]
Trata-se
essencialmente da área da edificação, em sua 1ª etapa de construção,
não sujeita a ampliações. |