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Políticas Bela Vista IV
1.
INTRODUÇÃO
1.1.
Localização
Florianópolis, capital do
Estado de Santa Catarina, está situada no litoral ocidental da ilha de Santa
Catarina e é por excelência um núcleo urbano cuja posição geográfica
propicia uma dinâmica de crescimento cumulativo. A cidade avança sobre o
continente e seu plano urbano fundiu-se com as cidades de São José, Palhoça
e Biguaçu, provocando uma conurbação desencadeada por um forte fluxo
migratório. Conforme dados levantados pelo IPUF (1996), este processo vem se
intensificando a cada ano, e já em 1970 seus reflexos podiam ser observados,
pois cerca de 22% da população da área conurbada era formada por migrantes.
Florianópolis era o município que exercia maior atração, por oferecer mais
alternativas de emprego e São José recebeu os reflexos deste processo, pois
além de despontar como área
industrializada, ausente na parte insular de Florianópolis, também passou a
servir como apoio à essa procura por espaços próximos à capital.
O conjunto habitacional popular Bela Vista IV está
implantado em área remanescente dos conjuntos Bela Vista I, II e III, à
margem da BR 101, junto ao trevo de Barreiros, no município de São José.
Este conjunto vem a ilustrar, enquanto objeto de estudo, os reflexos da
política habitacional promovida pelo sistema BNH/COHAB em Santa Catarina,
configurado segundo Peres (1994), como um elemento de deterioração e de
segregação urbanas.
A escolha do Bela Vista IV justifica-se a partir
dos principais problemas enfrentados pelos conjuntos habitacionais promovidos
dentro deste sistema e que vêm acumulando erros ao longo de tempo A
periferização e a implantação inadequada ao meio físico são os
principais condicionantes geradores
de conflitos urbanos e comprometedores da
qualidade de vida dentro do
conjunto.
A área escolhida para implantação destes conjuntos habitacionais era
de propriedade particular e constituía-se basicamente por chácaras. A partir da década de 60, São José passou a apresentar um
grande crescimento populacional determinado em parte pelo fluxo migratório
vindo do interior do Estado e, inclusive de Florianópolis, formado por
setores de mais baixa renda.
Tipologias construídas na primeira etapa formando o Bela Vista I
*
Fonte COHAB-SC
São 1500 famílias em
casas padronizadas que aos poucos foram ampliando suas unidades, dando outros
usos a estes espaços para complementação da renda e formação de um
comércio vicinal que hoje supre boa parte das necessidades do bairro como
farmácias, mini-mercados, lojas de confecções e miudezas em geral.
Av. Brasil é a principal via do Conjunto Bela Vista, a qual concentra a maior parte do comércio e serviço
Ginásio de esportes: reivindicação da população; encontra-se desarticulado de área de lazer
O fato de ter sido construído
sem um projeto global e inclusive, se fosse o caso, programa em etapas, já
configura uma falha no processo de planejamento de um conjunto habitacional;
porém, esta situação configura a prática comum do sistema de produção de
habitações no Brasil. A
principal conseqüência desta fragmentação na ocupação é a segregação
social que acabou ocorrendo entre os moradores dentro do Bela Vista, isto é,
formaram-se sub-comunidades dentro do mesmo bairro que tem pouca relação
entre si ou quase nenhuma.
1.3.
BR - 101
A
construção da BR-101 na região da Grande Florianópolis é praticamente
contemporânea ao Bela Vista, e veio interferir sobremaneira na configuração
urbana dos municípios por ela margeados como São José, Palhoça e Biguaçú,
constituindo em um grande eixo estruturador e ao mesmo tempo desestruturador
do crescimento destes municípios.
A postura do DNER - Departamento Nacional de Estradas e Rodagem -
em relação ao fato de que a BR-101 corta a malha urbana dos
municípios da Grande Florianópolis é a de que a BR foi implantada dentro de uma meta
estabelecida pelo governo federal cuja intenção era de ligar o norte ao sul
simplesmente. Constatou-se que, na época,
não houve nenhum tipo de negociação entre os poderes federais,
estaduais e municipais para se decidir onde
a rodovia viesse a ser implantada. Não se realizou nenhum tipo de estudo
sobre o impacto que esta rodovia pudesse causar sobre os sensíveis sistemas
de ocupação urbana e, principalmente, um estudo de previsão e de critérios
para o tipo de ocupação que tal empreendimento pudesse provocar. Segundo
depoimento do engenheiro do DNER, Sr. Cézar Ribeiro
[1]
, hoje a instituição tem procurado mudar tal postura diante dos
novos projetos a serem executados, buscando analisar caso a caso as
comunidades envolvidas e que sejam atingidas pelas obras. Esta mudança deve-se
a uma exigência mundial, pois órgãos financiadores como o BNDES (Banco
Nacional do Desenvolvimento Social), por exemplo, fiscalizam severamente se
suas exigências estão sendo obedecidas, em relação aos impactos sociais e
ambientais possivelmente provocados pelos empreendimentos financiados. A
duplicação da BR-101 certamente provocará tais impactos, porém não há
muito o que fazer em relação a isto já que esta veio a responder a um
problema urgente de congestionamentos crônicos na região.
2. ANÁLISE DO CONJUNTO
O
conjunto Bela Vista IV
[2]
constitui um tipo, o qual COHAB-SC
definiu como habitação popular vertical e multifamiliar e que veio sendo
implantado na década de 80 por todo o Estado de Santa Catarina. Seguindo o princípio europeu
fordista da produção em massa de habitação
[3]
, o conjunto Bela Vista IV teve seu projeto feito por uma
empreiteira de Curitiba e implantado em vários outros locais, inclusive no
conjunto Panorama em sua tipologia de três quartos. Eis aqui as semelhanças
com o Panorama, também objeto de estudo da nossa pesquisa. A
monofuncionalidade que também caracteriza o mesmo princípio leva este tipo
projeto a se tornar um hiato urbano, já que este não consegue se relacionar
de forma direta com o entorno imediato. A falta de contextualização dos
projetos, como o Bela Vista IV, implica diretamente no comprometimento da
qualidade de vida de seus moradores reforçado ainda pelo fato de ter sido a
quarta etapa do conjunto a ser construída.
Outro importante aspecto a ser
destacado é a qualidade das edificações relacionada aos materiais
empregados nas mesmas. O fato de se tratar de habitações populares que
requerem baixos custos em sua construção não deve justificar os erros de
execução e a baixa qualidade dos materiais utilizados, levando o mutuário a
arcar com as despesas de manutenção e deterioração precoce.
Este aspecto também compromete o conforto no interior das
edificações que devido à baixa inércia do material faz com que os
ambientes internos das edificações não troquem calor com o exterior,
provocando calor excessivo no verão. O sistema adotado para
execução dos projetos desenvolvidos pela COHAB no Brasil é feito através
de empreiteiras o que implica em uma série de fatores que contribuiu para um
produto final de baixa qualidade. Segundo técnicos da COHAB-SC, o sistema
consiste em licitações onde as empreiteiras interessadas em executar a obra
compram o pacote do projeto
[4]
e então fazem uma contra-proposta
de orçamento, sendo que aquela que oferecer o menor custo é a escolhida para
a execução da obra. Esta é outra causa
do processo de alta dos custos do produto-habitação final e de sua
uniformização tipológica, construtiva e estética.
No caso da construção do Conjunto Bela Vista IV, a empreiteira que
executou a obra foi uma empresa de São José chamada Fademaco Coderama
a qual já executou muitos projetos para a COHAB-SC.
A fiscalização é feita por um técnico da COHAB
que verifica se a obra está de acordo com o contrato. Porém, esta
fiscalização é deficitária, pois apenas um fiscal é encarregado de
várias obras inclusive no interior do Estado o que permite que muitas
irregularidades ocorram na sua ausência e que passem despercebidas durante
suas esporádicas visitas. Não há um acompanhamento constante nos serviços
e tampouco na qualidade dos materiais empregados de fato o que dá à
empreiteira um grau de liberdade no emprego de materiais e mão de obra.
2.1. Implantação
Implantação
Geral do conjunto Bela Vista
A política dos conjuntos
habitacionais promovidos pelo sistema BNH/COHAB, por suas características
centralizadoras, burocratizadas e pouco priorizadas dentro da esfera nacional,
acabou por acumular erros na escolha da localização, nos projetos
urbanísticos, nas tipologias das edificações e no controle tecnológico das
construções. O conjunto Bela Vista IV vem ilustrar esta
afirmação ao passo que se verifica na configuração do bairro em que a sua
execução foi realizada por etapas sem um planejamento prévio das etapas a posteriori. Nota-se
que as etapas que compreendem as tipologias unifamiliares formadas pelos
conjuntos I, II e III foram executadas dentro de uma lógica mais integrada
num plano urbanístico regular. Porém quando se analisa o conjunto formado
pelas tipologias multifamiliares formadas pelo conjunto Bela Vista IV, esta
lógica não é correspondida pois a própria localização do conjunto num
terreno residual do traçado regulador do bairro era antes destinado a ser uma
área verde e de lazer . O conjunto acabou por ficar “estrangulado” entre
as residências térreas, pela BR-101 e uma zona industrial da cidade de São
José contando com uma série de serviços e comércio pertinentes a ela, isto
é que nada tem a oferecer à um conjunto habitacional.
Este vem a ser o principal
condicionante que faz com que o conjunto Bela Vista IV enfrente tantos
problemas de segregação espacial e social urbana. Embora
seja um conjunto de médio porte e de grande adensamento populacional,
o local escolhido para sua implantação apresenta-se desarticulado com seu
entorno sem nenhum espaço de
transição entre a rodovia e o bairro de caráter residencial. Em
entrevista com o arquiteto responsável pelo projeto do Bela Vista IV, João
Carlos Bicca Zaniratti, este explica que a disposição dos blocos foi feita
como um “jogo de montar", onde se dispunha de um terreno de forma
triangular com uma declividade de aproximadamente
10 m e que os prédio foram sendo distribuídos lado a lado procurando
a melhor orientação solar possível porém consciente de que algumas
unidades acabariam sendo prejudicadas.
Outro aspecto que a
implantação implica é o fato dos afastamentos entre os blocos serem de
dimensões diferentes em sua maioria insuficientes para que haja insolação e
ventilação necessárias ao conforto no interior das unidades. Além disso, a
própria disposição dos blocos não busca estabelecer nenhum tipo de
relação entre si. Verificando na planta de implantação, vê-se que os
blocos das extremidades do terreno têm seus acessos independentes dos demais
e ficando “de costas” para os mesmos. É o caso dos blocos A, B, C
e D que têm os fundos voltados para os fundos dos blocos E, F e G,
resultando em uma circulação entre estes desarticulada do conjunto e
consequentemente marginalizada. Por esta razão, os moradores resolveram
acabar com o tipo de uso que estava sendo dado a esta circulação como pista
de skate e ponto de encontro de jovens que faziam muito barulho em horários
impróprios, colocando no meio da calçada uma seqüência de canteiros
de alvenaria perfilados.
Ainda dentro do aspecto da falta de relação entre
os blocos, o caso extremo ocorre no bloco M, que além do já citado fato de
ter seu acesso independente, este está voltado para a rua principal; isto é, seus moradores dificilmente precisam contornar
e nem mesmo avistar conjunto. O bloco M encontra-se no vértice do
triângulo formado pelo terreno, isto é este bloco não possui
bloco vizinho, funciona como um prédio isolado. Esta situação faz o
bloco ser um tanto polêmico para
os demais moradores do Bela Vista IV, pois a partir de um problema causado
pela implantação e disposição dos blocos dentro do conjunto, veio a se
tornar um problema de gestão interna, como veremos este assunto melhor
explicitado mais adiante. A topografia original do
terreno, onde se implantou o conjunto, sofreu alterações e que implicaram em
deficiências nos apartamentos, principalmente para os térreos. O
enterramento dos blocos em relação ao nível da rua e a formação de
taludes entre o bloco e a calçada externa do conjunto geraram uma série de
problemas internos na unidade. Estes conflitos implicam na
deficiência da ventilação e insolação das unidades térreas causando
sérios problemas de umidade principalmente nos apartamentos com fachadas
voltadas para o oeste e sul. Este desnível de aproximadamente um pé-direito
em relação à rua também causa problemas com a privacidade das unidades que
tem seus interiores completamente expostos para quem passa na calçada externa
do conjunto, obrigando os moradores a estarem constantemente com as cortinas
fechadas. Não há nenhum tipo de anteparo visual para amenizar este problemas,
como uma barreira vegetal por exemplo.
A proximidade dos edifícios permite a perda de privacidade mútua,
tanto visual quanto sonora entre as habitações dos blocos vizinhos e, como
afirma Carlos Nelson (1992), e reafirmam os moradores “constantes
olhares perturbam ocupantes”.
2.2. Gestão
do conjunto
Sobre o aspecto da gestão, é
possível perceber que no caso do Bela Vista
IV, semelhantemente no que constatamos no c. h. Panorama (ver
tópico Resultados - Panorama), como os problemas
principais são oriundos do sistema a que a política habitacional, submete os
processos de concepção, construção e administração da obra dos conjuntos.
Em nenhum momento, é levado em consideração a participação dos moradores
durante estas etapas que após
receberem suas chaves se vêem diante de uma responsabilidade de manter o
patrimônio coletivo tal como receberam sem sequer nenhum tipo de auxílio ou
orientação de como fazê-lo. O Estado simplesmente passa para as mãos
destes moradores toda e qualquer responsabilidade, com exceção do seguro
contra incêndio. O problema começa a partir do momento da construção do
conjunto, a COHAB transfere à empreiteira, no caso do Bela Vista IV chama-se
Fademaco-Coderama de São José, todo o poder de decisão, ficando restrita a
apenas um fiscal de obras a tarefa de controlar todo o processo de
realização habitacional. Verificou-se que é
emitido um memorial descritivo citando todos os materiais e serviços a
serem desenvolvidos; no entanto, o que se constata hoje no conjunto é um
elevado grau de insatisfação dos moradores diante da baixa qualidade dos
materiais empregados e de serviços mal executados que acabaram
tendo que ser refeitos. Em nenhum dos casos em que foram necessários
estes reparos, como o de uma nova impermeabilização das lajes de cobertura,
novas aquisições de caixas d’água, reforma no sistema de esgotamento,
construção dos muros e grades por exemplo e que são obras de interesse
coletivo do condomínio, a COHAB responsabilizou-se em arcar com as despesas,
obrigando os moradores, que já pagaram o financiamento,
a cobrir estes reparos do seu próprio bolso.
Como afirma a síndica Inês da Silva, 40 anos, “acabamos
pagando duas vezes pelo mesmo benefício, e pior que isso, nem todos pagam”;
isto é, alguns pagam para o benefício de todos. O problema ainda se
estende às unidades com uma série de deficiências também reparadas pelo
morador sem qualquer tipo de abatimento ou de reembolso pela COHAB. O aspecto
da habitabilidade será desenvolvido posteriormente com mais detalhes; porém,
é válido ressaltar que principalmente pela baixa qualidade dos materiais
empregados os moradores enfrentam graves problemas que poderiam ter sido
evitados durante as etapas de concepção e execução do conjunto. Segundo depoimento da síndica
Inês da Silva, não tem sido nada fácil conduzir a liderança do condomínio,
devido principalmente à diversidade sócio-cultural dos moradores,
considerando que o único critério de seleção para a aquisição dos
apartamentos foi o econômico- financeiro, o que prejudica muito no
desenvolvimento de uma vida comunitária mais integrada dentro do conjunto.
Depois de muitos conflitos em gestões exercidas por outros síndicos, a atual
comissão contratou os serviços de uma administradora de condomínios,
terceirizando o serviço. “Não nos sentíamos preparados
nem informados o suficiente para enfrentar tantos problemas” , afirma a
síndica que, apesar de todas as
dificuldades, tem obtido alguns resultados positivos dentro de sua
organização interna. A gestão da síndica Inês
já está no terceiro ano e vem acumulando alguns resultados positivos
a começar pela informação que é levada a todos os moradores, respeito ao
que está sendo feito com o dinheiro pago ao condomínio em boletins
informativos. As benfeitorias realizadas dentro do condomínio, com apoio da
maioria, sempre enfrenta resistência de uma parcela que não colabora no
pagamento e que no final acaba se beneficiando mais tarde. Dentre estas
realizações, está a construção de uma quadra de esportes e a reforma do
play-ground que estava completamente deteriorado devido à baixa qualidade dos
equipamentos e à falta de manutenção destes pelos moradores. Estas áreas,
com play-ground e quadra, foram cercadas e tem horários
restritos para funcionamento assim como limita o uso exclusivo à crianças.
Comenta a síndica que “foi a única maneira que encontramos para oferecer algum tipo de
atividade e de lazer, nem que fosse apenas para as crianças , já que o
bairro inteiro não possui nenhuma área adequada para isto” é o que afirma a síndica. Outra benfeitoria foi em
relação ao salão comunitário que estava praticamente abandonado, devido à
falta de manutenção. Além da reforma do piso, foi construída uma
churrasqueira de tijolos aparentes, o salão foi reequipado com fogão,
freezer, mesas e cadeiras. Quanto à inadimplência
da taxa condominal, a síndica afirma ser muito baixa hoje em dia, pois
já foi bastante alta cerca de quatro anos atrás, quando então começou a
funcionar o serviço da administradora contratada fazendo com que as pessoas
que não tivessem condições de manter os pagamentos em dia, alugasse ou
vendesse o imóvel.
2.3.
Acessibilidade e Deslocamento
O acesso utilizado para se
chegar ao conjunto Bela Vista é
feito exclusivamente através da BR-101, mesmo para
quem vem de um bairro vizinho. Este fato vem ilustrar o grave problema
gerado desde a construção da rodovia que não considerou nenhum sistema
viário estabelecido pelas prefeituras dos municípios da Grande
Florianópolis. Os lotes foram sendo feitos de acordo com a vontade de seus
proprietários resultando numa malha urbana
desarticulada do sistema viário existente. As vias de acesso a estes lotes
eram feitas perpendicularmente à BR-101, formando
uma estrutura semelhante à espinha de peixe, sem nenhuma preocupação
com a topografia, drenagem pluvial e degradação do meio-ambiente. Cada uma
destas vias foram abertas sem se conectar transversalmente, fazendo com que a
circulação de veículos no
sentido paralelo à rodovia não ocorresse, obrigando a utilização da BR
até mesmo para pequenas distâncias. Este fato se deve a uma
questão basicamente institucional e pela falta de uma política urbana
que deveria ser articulada no
sentido horizontal nos níveis federal, estadual, municipal e organizações
comunitárias. Em entrevista com o engenheiro do DNER, Cézar Ribeiro, esta
falta de integração ficou evidente quando se trata da BR-101, pois segundo ele “a instituição cumpre objetivos decididos em Brasília seguindo
um Plano Nacional de Viação, então quando tal decisão chega para ser
executada não há o que se discutir”. Porém, o próprio engenheiro
reconhece as falhas deste sistema e aponta uma nova postura do DNER diante de
questões como a preocupação com impactos
de natureza sócio-culturail, econômica, urbana, ambientai entre outros,
causados por uma intervenção do porte de uma rodovia federal. Ele afirma
isto diante da aproximação com as comunidades envolvidas nos projetos
rodoviários no estado de Santa Catarina, onde cada caso é analisado em suas
particularidades com a participação comunitária. Com relação ao município de
São José, quando foi construída a rodovia, a exigência que envolvia o DNER
e a Prefeitura era com respeito à faixa da domínio com a lei 6766 de 1979,
sobre o uso do solo ao longo das rodovias que diz que tem que se deixar deixar
uma extensão de 15m não edificante além da faixa
de domínio. De modo geral, esta lei vem sendo cumprida e a
fiscalização é feita em parceria com as prefeituras. Porém, o engenheiro
afirma que o DNER tem uma política nacional que está preocupada com o
tráfego rodoviário e acredita ser exclusivamente da competência do Estado e
municípios, a legislação sobre o seu território. Esta afirmação vem de
encontro com nosso estudo de caso onde o nível federal com a BR-101, o
estadual com a COHAB-SC e o municipal com a legislação não coordenaram seus
projetos resultando em conjunto habitacional situado às margens de uma
rodovia federal numa zona destinada á indústria e comércio pesado do
município.
3.
CARACTERIZAÇÃO DO CONJUNTO BELA VISTA
IV
[5]
3.1
Dimensão psico-social
Projetar segundo princípios
internacionalizados por uma prática distorcida, foi compreendido como
necessidades não atingidas expressas na sub-utilização ou abandono das
áreas e equipamentos ofertados.
No caso do conjunto Bela Vista IV, a disposição de blocos isolados
“livremente” reduz as possibilidades de relação a serem estabelecidas
entre entorno e edificação. A rejeição da rua enquanto espaço de
interdependência funcional passa a ser um espaço residual que aliada à
disposição isolada dos blocos se converte em aleatoriedade arbitrária de
implantação, resultando na dificuldade de orientação e identidade do
conjunto.
[6]
A repetitividade de blocos
idênticos não deixa de ser um
eco longínquo da prescrição “fordista” partindo das imposições da
industrialização e um número reduzido de necessidades mínimas do homem
tipo anônimo da sociedade de massas. A regra concebia a construção de
habitações como um processo análogo à produção de automóveis ou navios.
Mas, como assinalamos anteriormente, as deficiências estruturais de ordem
econômica, institucional e social, não
permitiram e não permitem adotar-se programas
habitacionais de grande escala segundo os princípios de produção
serial . Logo, seguindo a uma lógica de caráter financeiro, a implantação
do conjunto Bela Vista IV resultou em espaços residuais sub-aproveitados e
considerados como “terra de ninguém”.
Os fundos das edificações,
geralmente utilizados para varal, estão voltados para a circulação interna
que acaba se tornando uma via de fundo de lote, sem vida e sem nenhum
significado para definir um uso coletivo.
3.2.
Dimensão sócio-econômica
Ao observar-se o conjunto Bela
Vista IV na paisagem em que se insere, este se destaca, porém não possui
identidade própria que o distinga de outros conjuntos habitacionais, isto é,
a sua identidade se configura devido à sua localização às margens de uma rodovia federal e não do conjunto enquanto um
espaço de moradias de qualidade. A monofuncionalidade de
habitação torna o conjunto, dentro de um sky-line já consolidado
pela BR-101, um objeto único e sem relação com seu entorno. No entanto,
este aspecto monofuncional é o fator agravante que impede que o conjunto
possa desenvolver outros tipos de relações, mantendo-o dependente de
atividades e serviços prestados em outras localidades.
Esta tipologia inclusive restringe o morador de fazer qualquer tipo de
adaptação que lhe permita a transformar parte de seu apartamento ou até
mesmo parte do conjunto para o desenvolvimento de alguma atividade que venha a
complementar sua renda familiar ou mesmo de sustento de sua família. Durante
a pesquisa realizada no interior das habitações do Bela Vista IV, uma
moradora expôs um grave conflito existente neste aspecto: tratava-se de uma
família de seis pessoas em que a moradora era costureira. Para desenvolver
sua atividade, foi necessário ocupar um dos quartos onde dormiam três de
seus filhos sendo que um deles não possuía um lugar para dormir; era
necessário arrumar um colchonete todas as noites entre o beliche e a mesa
para corte de tecidos. Também neste quarto eram feitas as provas de roupas de
suas clientes. Este fato serve para ilustrar a dificuldade existente em uma
situação em que esta renda obtida de um ofício desenvolvido em casa, é
incompatível com o desenvolvimento das atividades básicas da casa, neste
caso dormir, pois além da falta de cama havia ainda o problema do ruído da
máquina até altas horas da noite. Esta questão é de grande
importância no momento em que se pensa um conjunto para uma determinada faixa
de renda da população, pois fica evidente a necessidade do desenvolvimento
de atividades de fins lucrativos para a própria manutenção desta
população no local. Prever espaços para estas atividades sem comprometer o
funcionamento das demais é a verdadeira garantia de diminuir a rotatividade
dos apartamentos, no ganho da qualidade de vida enquanto relações a serem
estabelecidas entre os moradores, a “desnecessidade” de deslocamento à
outros bairros e até mesmo um subsídio para quitação das prestações dos
apartamentos.
3.3.
Dimensão sócio-cultural
Fica cada vez mais evidente
que uma das soluções mais viáveis para o combate ao déficit habitacional
é a verticalização. Por uma questão de preço da terra, otimização do
espaço e baixo custo da construção, os conjuntos habitacionais de alta
densidade vem apontando uma resposta mais adequada. Porém, ao se projetar um
conjunto de prédios, implica em uma série de considerações na grande
maioria dos conjuntos habitacionais desenvolvidos pela COHAB e constatados no
conjunto Bela Vista IV que não foram considerados. A própria dimensão do
termo conjunto habitacional
[7]
não é levada em conta. Habitar em conjunto, espaços coletivos
são conceitos que o projeto já deve deixar explícito. No conjunto Bela
Vista IV, a síndica Inês da
Silva relatou vários casos em que a falta de domínio da propriedade coletiva
versus o domínio privado da habitação
veio a trazer transtornos para os demais moradores
[8]
. A dificuldade para
estabelecer o diálogo entre os residentes e a comissão de administração é um forte indício de que as pessoas não estão preparadas
para morar em conjunto, declara a síndica.
O critério de escolha da COHAB, faixa de salário apenas, também vem
a resultar em uma grande
diversidade de grau de instrução destes moradores que acabam não
conseguindo estabelecer sensos comuns. Durante
as pesquisas realizadas em campo, constatou-se que há moradores que vão de
professores universitários a vendedores ambulantes e desempregados, rvelando
a diversidade social do conjunto.
Os espaços de lazer coletivo
do conjunto são o play-ground e uma quadra esportiva que ficam praticamente “enclausurados” entre os blocos e
apesar dos horários pré-estabelecidos que são rigorosamente obedecidos, o
barulho proveniente destas atividades submetem os apartamentos contíguos a
estas áreas, a
um desconforto
acústico e conseqüentemente à uma desvantagem em relação aos apartamentos
em diferente localização.
Durante as pesquisas
realizadas em campo, constatou-se que há moradores que vão de professores
universitários a vendedores ambulantes e desempregados.
A grande maioria destes moradores diz preferir morar em apartamentos a
morar em casas convencionais, apesar de essa mesma maioria ter dito morar em
casa a maior parte de suas vidas. O motivo desta preferência, segundo estes moradores, é a segurança e a
mão-de-obra na manutenção, onde o apartamento é qualificado por sua
praticidade. No entanto, há um paradoxo:
todos concordam que viver em condomínio tornam as pessoas muitos mais
individualizadas do que a vida em vila, por exemplo. No Conjunto Bela Vista
IV, não há nenhum tipo de atividade comunitária que envolva de maneira
efetiva seus moradores, nem tampouco há algum tipo de associação ligada às associações existentes nos conjuntos "vizinhos"
[9]
Bela Vista I, II e III.
O fato dos moradores terem que trabalhar em bairros distantes ou no centro da
capital não propicia encontros ou visitas entre estes, não conseguindo
estabelecer relações de convívio direto. A falta de uma área de lazer ou
de outras atividades coletivas também é relevante para este aspecto. A falta
de privacidade entre os moradores dentro do conjunto acaba por forçar as
pessoas a se recolherem em suas unidades
provocando ainda um afastamento das relações de vizinhança.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
A pesquisa realizada sobre o
Conjunto Bela Vista IV esteve voltada para um aspecto investigativo e
posteriormente comparativo, colocando o aluno em contato direto com o objeto
de estudo, e permitindo-lhe um posicionamento crítico diante do tema abordado.
As constantes visitas paralelas às pesquisas realizadas nos órgãos e
trâmites burocráticos que envolvem a política habitacional, exigiram e
ampliaram a visão global dos conflitos existentes, contribuindo sobremaneira
para a formação acadêmica do aluno, estimulando o interesse pelas questões
de interesse social e examinar o papel que a arquitetura desempenha dentro
deste quadro.
O Conjunto Bela Vista IV vem a
ilustrar mais um dos modelos anacrônicos impostos pelo poder público, o
cartel das empreiteiras e por técnicos absolutamente tolhidos de suas possibilidades reais em projetar habitações com
qualidade. Todos envolvidos em um sistema incapaz de gerar novas soluções, atrelados a uma ”lógica”
capitalista e pobre de idéias. Mais relevante que a unidade
habitacional em si, o Bela Vista IV comprova que a localização e o acesso à
cidade, é algo irrefutável. A
contigüidade de um conjunto habitacional a uma rodovia federal é uma das
provas cabais da lógica perversa de expulsar o pobre para a periferia,
comprometendo a qualidade não só de vidas mas de espaço urbano gerado,
isolado e incapaz de estabelecer relações necessárias do habitar. O Bela
Vista se assemelha a um ilha, cercada de muros por todos os lados, muros
virtuais, pois a barreira real está no tráfego pesado e constante de
veículos e na difícil convivência com os conjuntos construídos
anteriormente, o Bela Vista I, II e III, composto por unidades
unifamiliares e que se estabeleceram ali muitos anos antes. Nesta época, o
bairro inteiro mal era dotado de infra-estrutura básica, o qual foi sendo
conquistado a duras penas pelos primeiros moradores. Esta é uma das causas da
rivalidade entre os moradores das casa e pelos moradores dos apartamentos, que
possuem um certo “status” por causa disso. Há uma segregação interna
deste conjunto geral, provocada pela falta de sintonia entre os projetos, pela
despreocupação com os níveis de relação a serem estabelecidas e
principalmente por uma razão econômica. É inadmissível pensar a moradia de
interesse social solta, sem vínculos com o tecido já existente e suas
possíveis mudanças. No momento da implantação do Bela Vista IV, não se
realizou nenhum estudo de impacto entre a BR-101 e um conjunto habitacional de
alto adensamento, e que agora
convive lado a lado com a duplicação desta rodovia a todo vapor. Podemos comprovar no estudado
conjunto as dificuldades que os usuários possuem para se ter acesso aos
equipamentos e serviços urbanos, já que os hospitais, escolas e outros
serviços essenciais de melhor qualidade se encontram no bairro do Estreito ou
no centro de Florianópolis, fazendo-se sempre necessária a utilização da
BR-101. Uma operação que deveria se dar em um nível de bairro que é o
simples deslocamento de uma pessoa até a escola ou super mercado por exemplo,
se torna uma operação que implica deslocamento pela BR ou área fora do
local, gerando prejuízos aos dois sistemas, pois o usuário despende de muito
tempo de locomoção e as vias de tráfego acabam congestionadas pelo excesso
de veículos, provocando ainda outros males generalizados. O tempo que as
pessoas levam para se locomover até o trabalho, ou aos lugares necessários
à realização de outras atividades como comércio, serviços, equipamentos
de saúde, educação e lazer, está sendo gasto em detrimento do tempo que
deveria ser dedicado à convivência entre os moradores, às relações de
vizinhança, aos assuntos comunitários. No Conjunto Bela Vista IV, muitos se
conhecem de vista, mas as atividades comunitárias se resumem a reuniões de
condomínio que, segundo a síndica, são pouco freqüentadas.
Não há nenhum tipo de preocupação relacionado à manutenção de
vínculos adquiridos ao longo do tempo e que, por assim ser, caracteriza uma
vida em comunidade. Basta ver que a crítica que se faz ao projeto do Bela
Vista é aplicável à maioria dos conjuntos
executados pela COHAB em qualquer parte do país, pois não há a
participação do maior interessado: o usuário. Particularmente, como
relação à nossa pesquisa,
aplica-se ao estudo do c. h. Panorama que realizamos.
Portanto, uma política
habitacional deve estar inserida em uma política mais ampla de
desenvolvimento urbano, em que as funções sociais da cidade e o convívio
social sejam efetivamente considerados. Já se observou a falência de um
sistema caduco de produção de habitação em série aplicável em qualquer
lugar, em qualquer contexto em detrimento de lucros
imediatistas e que
pauperiza as idéias e as ações que busquem realmente melhorar a grave
situação habitacional da região. É
fundamental a criação de políticas públicas de caráter municipal, que
estejam mais próximas ao problema e coerentes com sua realidade
sócio-econômico-cultural. No caso do Brasil, parece-nos
“luxo” pensar habitação popular centrada somente nos padrões internacionais da arquitetura, ainda que
de cálculo não podem ser descartados como referentes com relação àquelas
experiências que tiveram êxito em seus países de origem. Diante de um
déficit habitacional, ainda que
não de cálculo impreciso, em cerca de 6 a 9 milhões de casas, a habitação
deveria ser pensada a partir das condições estruturais adequadas de emprego,
renda suficiente para manter uma vida digna, e no âmbito urbano, garantir a
acessibilidade, as condições ambientais e construtivas próprias do
lugar onde é assentada. O Conjunto Bela Vista ilustra muito bem os prejuízos
implicados, como acesso ao trabalho, ao lazer, aos equipamentos de saúde e
educação mantendo, se possível, seus vínculos culturais e as relações
comunitárias necessárias para o exercício da cidadania.
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[1]
Cézar Ribeiro é engenheiro civil e é chefe do Departamento de
Desenvolvimento de Projetos do DNER. [2] São 13 blocos de 16 apartamentos , totalizando 208 unidades, o que podemos considerar como um conjunto de médio porte. A área do terreno possui 11.023,75m.
[3]
O modo de regulação fordista é inspirado nas
fábricas Ford nas primeiras décadas deste século, onde o princípio
básico de produção supunha a repetitividade standartizada dos processos
produtivos encadeados em série, com utilização de mão de obra
especializada que reproduzia os movimentos mecanicamente. Supunha uma alta
concentração de meios de produção e matéria prima em escala gigantesca
com mercados cada vez mais amplos e internacionalizados.
Processo semelhante utilizou-se
na Europa pós-guerra para a produção em massa de habitações para uma
população que voltava da guerra. No Brasil e nos países periféricos,
os conjuntos habitacionais concentraram mão de obra para baixar os
custos de produção e supunham uma mão de obra assalariada e um sistema
unificado de financiamento centralizado nas mãos do Estado - os SFH/FGTS/BNH
- para dar maior agilidade nos fluxos financeiros, mas, no entanto, ficaram
muito longe do sistema fordista dos países centrais. Aqui, denominou-se
este sistema "semelhante" de fordismo periférico. Para alguns
autores, ainda mesmo assim, o termo é impróprio, considerando os problemas
estruturais econômicos dos países periféricos, a baixa produtividade, o
falta de mecanismos transparentes e ágeis de tramitação de projetos, um
sistema especulativo financeiro e uma alta centralização burocrática do
sistema gestor estatal.
[4]
O pacote consiste em
memorial descritivo, plantas com demais informações, suas
exigências e uma margem de financiamento de cada projeto elaborados pelos
técnicos da COHAB. [5] A análise a seguir referenciou-se nos parâmetros de análise que Thereza C. C. Carvalho (1985) adotou e que denominou de "dimensões".
[7]
Peres (1994) examina este termo em sua conotação
ideológica, institucional e ideológica contrapondo-o com o conceito de
habitat, configuração e mesmo assentamento em sentido lato, pois comumente
esta acepção está conotada de forma oficial e implicando em pouca
relação com o entorno e entendido que é construído de forma centralizada,
ignorando as particularidades dos moradores. [8] Um morador decidiu, sem consultar o síndico nem sub-síndico, fazer uma vaga de estacionamento para seu veículo em frente ao seu bloco, chegando a quase encostá-lo na parede externa do prédio e destruindo o canteiro frontal. Outro fato foi em relação ao muro do bloco “M” já relatado anteriormente.
[9]
O que queremos destacar
é que, pela localização do
conjunto e sua tipologia e enclausuramento, e de certo modo pela sua composição social, cuja população é mais
recente, portanto, de maior poder aquisitivo que os outros conjuntos da
região, estamos questionando exatamente é até que ponto há uma
proximidade social no bairro,
apesar de sua proximidade física.
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